sábado, fevereiro 07, 2009

O capital humano durante e depois da crise

Aqui segue um artigo recente escrito por Renata Dolabella Fabrini, sócia da Fesa Global Recruiters.

Em agosto de 2008,
preparava-me para uma viagem de negócios a Nova Iorque, como faço a cada início de semestre. Como especialista no recrutamento de executivos do setor financeiro, estar nos principais centros financeiros do mundo faz parte da minha rotina de trabalho. A viagem estava programada para começar em 22 de setembro, mas decidi aproveitar minha ida para um descanso psicológico e me programei para fazer um curso de dois dias chamado Liderança para \"high potentials\", em Stern, na NY University. Embora o curso estivesse no programa de cursos para executivos de Stern, o título e o conteúdo tinham me intrigado.

Cheguei à cidade em 17 de setembro, véspera do que podemos chamar de Dia D desta crise, marcado pela quebra da Lehman Brothers. Momento também que evidenciou a conscientização americana do tamanho do problema que estava por vir, abalando o conceito primordial dos Estados Unidos da America: o Livre Mercado. Iniciei o curso e, ironicamente, me vi sentada na sala de uma das principais escolas de finanças dos EUA, localizada a alguns quarteirões de Wall Street, estudando liderança.

Sabem por que "Liderança para High Potentials"? Porque estamos falando de um novo olhar para liderança onde devemos reaprender e reprogramar nossos conceitos. Um dos temas abordados no curso é o surgimento de uma teoria que valoriza nosso lado direito do cérebro que até bem pouco tempo era considerado sem uso pelos neurologistas, mas que recentemente foi descoberto como o lado responsável por sintetizar o todo. É aquele que nos faz ver o grande cenário, sem ficarmos presos às pequenas partes. Uma teoria descrita no livro "A Whole New Mind", de Daniel Pink. Neste momento de crise, vamos colocar o lado direito do cérebro para funcionar junto com o esquerdo, somando forças.

O que mais escutamos nesta crise é que estamos diante de mais uma destas que se repetem de tempos em tempos, de maior ou menor magnitude. E que, daqui a alguns anos, outras surgirão. No entanto, gostaria de pedir licença aos profissionais mais experientes que conclamam a frase "já vi isto antes" e perguntar: será que não estamos à frente da oportunidade de mudar essa dinâmica? Eu acredito que sim. O planeta vem nos pedindo isto, e a globalização é apenas uma das formas que a natureza achou de nos mostrar isso. Estamos vivendo uma era em que as certezas estão ruindo a nossa frente, ícones do mundo financeiro e da economia real estão deixando de existir.

A área de recursos humanos deve aproveitar a oportunidade que a crise está dando e tornar-se efetivamente estratégica. Para isto, precisa trabalhar alinhada ao negócio, sendo capaz de observar o grande cenário. Mais: além da área de recursos humanos, todos os gestores precisam utilizar o lado direito do cérebro e perceber o macro.

Em um recente estudo, constatamos a ineficiência do efeito de recrutamento e seleção sem planejamento, pela simples lei da oferta e da demanda. Vimos que as instituições não puderam contratar os profissionais mais adequados e alinhados com o que definiram como sendo as competências essenciais, abdicando de várias delas, pela necessidade de suprir um buraco em sua estrutura. Durante anos, as organizações perceberam recursos humanos como "headcount" e esqueceram que o capital humano é o responsável pela sobrevivência da organização.

É o momento de aproveitar a lição dos dias de hoje e colocar em prática o planejamento. Aprender a trabalhar a atração, retenção e motivação dos profissionais. Capturar a matéria-prima intelectual a sua frente. Não é para simplesmente cortar o "headcount". Mas, se for preciso cortar, é necessário fazê-lo com consciência do custo futuro para atrair os melhores novamente.

Agora, mais do que qualquer outro momento, deve-se olhar o grande cenário. Ter a maestria da liderança consciente que é capaz de trabalhar com conjunturas diversas, ter o lucro como conseqüência e não como motivo. As empresas que querem durar devem ter a capacidade de planejar o futuro, mostrando o papel que os recursos humanos possuem na relação custo beneficio para o futuro da sua organização e do nosso planeta.

Fonte: Valor Econômico

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