quarta-feira, novembro 12, 2008

A sala ficou diferente

11/11/2008 - Instituições que investiram em aulas semipresenciais relatam, durante Congresso da Abed, como superaram desconfianças e conseguiram reduzir taxas de abandono e reprovação

Desde que o ensino semipresencial foi regulamentado pelo Ministério da Educação, em 2004, as instituições de ensino superior têm investido na prática, como forma de dinamizar os conteúdos oferecidos em sala de aula. Mas, pelo pouco tempo de implementação, a junção entre ensino presencial e a distância ainda gera dúvidas, tanto entre docentes como entre alunos. Para debater e mostrar as boas experiências realizadas recentemente na área, esse foi um dos temas do 14º Congresso Internacional de Educação a Distância, realizado em setembro último, pela Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed).

A partir da publicação da Portaria nº 4.059, de 10 de dezembro de 2004, as instituições podem ofertar 20% das disciplinas ou do total da carga horária de um curso a distância. Um dos principais desafios, entretanto, é a adaptação de professores e alunos ao novo processo. Questões como qual conteúdo pedagógico de um curso pode ser adaptado para o ensino a distância e o hábito de ter um professor em sala de aula ministrando conteúdos ainda são os principais desafios para as instituições que adotaram a prática.

Coordenadora da mesa que discutiu "semipresencialidade nas universidades privadas e seus benefícios para a melhoria do ensino presencial", a consultora em educação corporativa e a distância Rita Maria Lino Tarcia, do campus virtual da Universidade Cruzeiro do Sul (Unicsul), lembra que o uso do ambiente virtual não significa o descarte da experiência em sala de aula. "Na semipresencialidade, a construção da aprendizagem é no presencial. O professor está no mesmo ambiente que o aluno e utiliza o ambiente virtual para complementar um processo preparado presencialmente. Hoje, temos um perfil de aluno que tem dificuldades trazidas da educação básica e, por isso, o tempo da sala de aula é precioso e precisa ser explorado da melhor forma pelo professor", diz.

Por isso mesmo, um dos desafios dos docentes é conseguirem diferenciar o que pode ser trabalhado presencialmente ou a distância. "A partir dessa distinção, o professor consegue aproveitar melhor o tempo com o aluno [no presencial] para desenvolver reflexões e explicações sobre a disciplina", defende Rita Maria.

Os professores têm utilizado o ambiente virtual para disponibilizar exercícios, explicações sobre determinados conteúdos, trabalhos, fóruns, processos de supervisão de estágio, filmes e pontos da disciplina que necessitem de complementação. "É preciso trabalhar as disciplinas de uma forma diferente do habitual. Ele [o professor] precisa sair da área de conforto", enfatiza Rita Maria. Por outro lado, se o educador se sente ameaçado pela tecnologia e não abre mão do papel de ser o único transmissor de conteúdo, a semipresencialidade não será bem utilizada. "A qualidade do processo depende fundamentalmente do docente."

A coordenadora do centro de tecnologia educacional do Centro Universitário do Distrito Federal (CTE/UniDF), Vera Lúcia Moreira, concorda. Segundo ela, a principal dificuldade em relação à semipresencialidade é o corpo docente. "Houve resistência e foi preciso contratar professores de fora, já que é preciso se adaptar a esse novo processo e nem todos conseguem", revela.

A experiência do UniDF mostrou ser necessário aumentar a atenção durante a contratação dos professores para atuar no semipresencial. "Primeiro é feita a experiência de uma semana de ambientação para ver como é o desempenho do candidato", afirma. Há situações em que o professor também precisa "enfrentar" as câmeras e assumir papel de apresentador. Por isso, a universidade precisa apoiá-lo nessa mudança. "No UniDF, por exemplo, temos a TV universitária onde é feito um curso com os professores que possuem interesse em trabalhar utilizando vídeo", explica a coordenadora.

Vera diz que, com ajustes ao longo do processo, a instituição comemora atualmente ter alcançado a formação de um corpo docente sólido e comprometido, além de ter conseguido uma baixa evasão escolar, que está entre 3% e 4% - 309 alunos em um total de 4.427, no primeiro semestre de 2008.

O Centro Universitário de Rio Preto (Unirp), do interior de São Paulo, também conseguiu bons resultados. O Unirp reduziu em 17% o número de alunos reprovados. O bom desempenho é atribuído à implantação da semipresencialidade como instrumento capaz de melhorar o desempenho dos estudantes.

"Percebemos que o aluno passou a estudar mais, a escrever melhor e o processo de auto-aprendizagem ficou mais acentuado", enfatiza a coordenadora de ensino a distância do Unirp, Marilena Estrella Facuri, que participou da mesa de discussão "Planejamento, estruturação e gestão de disciplinas e cursos a distância" e "Planejamento, gestão e modelagem pedagógica na oferta dos 20%".

Trabalhando com ensino a distância desde 2000, Marilena, que também é pedagoga e mestranda em tecnologia da inteligência e designer digital (PUC-SP), conta que, inicialmente, foi preciso criar uma cultura de semipresencialidade dentro da instituição.

Ela também enfrentou resistência de professores, mas a fase de desconfiança foi vencida com um projeto piloto, montado em 2006, para testar o novo método. Os resultados foram surpreen­dentes. "Iniciamos com sete cursos em sete disciplinas, escolhidas por um colegiado. Hoje, chegamos à marca de 289 disciplinas, em 30 cursos. Não discutimos mais se é semipresencialidade ou não. É ensino", reflete.

Rita Maria, da Unicsul, de­fende que a adoção da semipresencialidade precisa realmente ser bem planejada pela instituição, que deve fornecer condições para o professor utilizar adequadamente os ambientes e os recursos. A questão econômica pode ser um atrativo, mas a consultora faz um alerta. "É preciso que essa decisão seja tomada com muita cautela e ética, porque pode retirar o aluno da sala de aula e não atribuir a ele uma situação de aprendizagem adequada. A instituição economiza, mas o aluno não ganha."

A consultora ressalta, ainda, que também é possível trabalhar com a semipresencialidade sem a diminuição da carga horária presencial. "É possível desenvolvê-la sem contar com os 20% estabelecidos pelo Ministério ou promover projetos interdisciplinares que tenham a participação de vários professores", afirma.

A estratégia inicial da Unicsul para as atividades on-line foi utilizar o termo webclass. "No entanto, o professor resgata, na sala de aula, o conteúdo do ambiente virtual para conectar o significado", explica o diretor-executivo do campus virtual da Unicsul, Carlos Fernando de Araújo.

fonte: revista ensino superior

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