terça-feira, outubro 14, 2008

Educação e inovação ainda são prioridade

13/10/2008 - Países que seguirem criando condições para a inovação prosperar terão crescimento mais rápido tão logo a situação econômica melhore

NA MEDIDA em que as incertezas do cenário financeiro se espalham, é cada vez mais óbvio que nenhum país ficará imune aos efeitos de um mercado de investimentos mais restrito e a uma redução geral de gastos. Mesmo o Brasil, que viveu um período de extraordinário crescimento e diversificação econômica, assiste a uma expressiva volatilidade de seu mercado de ações.
Ninguém pode prever o impacto que terá a atual situação econômica.
Mas, independentemente dos acontecimentos dos próximos meses, meu otimismo segue inalterado sobre as perspectivas de logo prazo, tanto no Brasil quanto nos outros países.
As tendências que tornaram a última década tão dinâmica para as empresas em todo o mundo não mudaram. A tecnologia continua a evoluir.
A produtividade continua a aumentar. A tendência do mercado mundial de se transformar em uma economia baseada no conhecimento está em plena atividade. Novas oportunidades de negócios continuam a emergir.
E eu continuo a acreditar que a chave que possibilitará o aproveitamento de todas essas oportunidades está no investimento em inovação.
Basicamente, a inovação é a capacidade de transformar novas idéias em produtos e serviços capazes de gerar lucro. Esse processo emerge da experiência, do conhecimento acumulado e da visão das pessoas. Isso significa que a base da inovação reside em investir em pessoas: são investimentos que ampliam o acesso às oportunidades de educação e às ferramentas da tecnologia da informação que favorecem todo o potencial da inovação.
O Brasil é a prova inequívoca do impacto positivo desse tipo de investimento. Nunca um número tão expressivo de brasileiros teve tanto acesso à educação. Desde 2000, o número de crianças inscritas em programas de ensino básico aumentou 60%.
E o acesso à tecnologia da informação também continua em expansão. As vendas de PCs aumentaram 42% de 2006 para 2007 e o número de pessoas que têm acesso à internet a partir de suas casas cresceu quase 30%.
São tendências como essas que estabelecem a base para a disponibilidade de uma força de trabalho com as necessárias aptidões e conhecimentos capazes de sustentar as empresas brasileiras que baseiam seus negócios na inovação. E são essas as empresas que, por sua vez, representam a base de um crescimento econômico sustentável e de novas oportunidades.
Essa transformação está em pleno vigor no Brasil. O desemprego caiu, graças a um esforço sem precedentes de criação de empregos. Uma parcela significativa desses novos postos está na área de tecnologia.
Na medida em que a mão-de-obra brasileira se capacita e adquire conhecimentos, o país tem a oportunidade de acelerar sua transformação, passando de uma economia baseada na extração de recursos naturais para um país sustentado pela inovação.
Obviamente, diante das atuais incertezas econômicas, o grande perigo está na possibilidade de as empresas mudarem seu foco de investimentos em educação, acesso à tecnologia e infra-estrutura para outras prioridades.
Minha convicção é a de que os países que continuarem a criar condições para que a inovação prospere estarão bem posicionados para enfrentar problemas econômicos e terão um crescimento mais rápido assim que a situação econômica global melhorar.
Há ainda outra razão que reforça a importância de investir em inovação neste momento: estamos no meio de um processo em que algumas tendências tecnológicas vitais -dispositivos eletrônicos com crescente mobilidade; o advento do "Cloud Computing" (ambientes de computação com a conexão de centenas de milhares de máquinas, sob a tecnologia da virtualização); aperfeiçoamentos na tecnologia de vídeo; interfaces para a interação por toque e gestos- estão convergindo de forma a revolucionar o papel da computação em todo o mundo. Em conjunto, tais tendências abrirão portas para novas experiências, que permitirão a interação mais fácil entre as pessoas e as coisas que lhes são mais relevantes.
Países e empresas que tiverem uma participação ativa na criação de novas experiências e na abordagem direta dessas questões terão certamente grande vantagem em relação a outros.
Com os investimentos certos, as empresas brasileiras poderão ter um papel de destaque no desenvolvimento da próxima geração de inovações tecnológicas. Para tornar isso possível, o setor público e o setor privado devem trabalhar em conjunto e investir em educação, no acesso à tecnologia e em infra-estrutura, criando as condições mais adequadas para a viabilização dessas inovações.
No caso de um cenário econômico mais complexo, o governo também terá que demonstrar sua coragem para dar continuidade a seus investimentos de longo prazo, sem deixar de tomar as medidas necessárias para enfrentar as incertezas do momento.

STEVE BALLMER é presidente-executivo da Microsoft.
Fonte: Folha de São Paulo

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