sábado, setembro 13, 2008

Instituição top tem 14% de alunos carentes

13/09/2008 - O perfil do estudante das instituições de ensino superior de excelência no País é ainda predominantemente de elite, mas já há sinais de inclusão social. Cruzamento de dados feito pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais do Ministério da Educação (Inep/MEC), a pedido do Estado, mostra que 75% dos alunos das 21 melhores instituições moram com os pais e 53% são sustentados por eles. Quase 60% estudaram em escola particular no ensino médio.

Apesar disso, a renda dos estudantes mostra que há algum acesso também a jovens carentes. Na faixa mais baixa, de até três salários mínimos, estão 14% dos alunos. Segundo o IBGE, esse grupo representa 71% do total da população brasileira. Há ainda 39%, a maior parte, de alunos com renda familiar entre 3 e 10 salários nas instituições de ponta.

Entre as faculdades e universidades que integraram o estudo há oito públicas, todas elas federais. O total de alunos das 21 instituições é 61.984, ou seja, 1,3% do total de matrículas na graduação no País. Desse grupo, 10 são paulistas. Entre as públicas, estão a Federal de São Paulo (Unifesp) e o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). O restante inclui particulares já reconhecidas pela qualidade do ensino - e pelas altas mensalidades - como Fundação Getulio Vargas (em São Paulo e no Rio), Faculdades Ibmec (São Paulo e Rio) e Faculdade de Campinas (Facamp).

Elas são consideradas as melhores porque tiveram conceito 5 no Índice Geral de Cursos (IGC), nova avaliação do MEC que leva em conta a graduação e a pós. O IGC foi divulgado na segunda-feira e, pela primeira vez, um indicador permitiu rankings por instituição - até então, as avaliações eram apenas curso a curso.

Por isso, agora é possível mostrar o perfil dos estudantes de cada faculdade ou universidade. “Pesquisas já vêm mostrando a inclusão de estudantes de baixa renda no ensino superior”, diz o educador da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Abílio Baeta Neves. Os alunos de baixa renda aparecem com mais freqüência entre as universidades públicas do grupo. Na Federal de Viçosa (UFV), 24% estão na faixa de até 3 salários. Na FGV-SP não há nenhum aluno nessa condição. Além disso, especialistas acreditam que esse resultado pode ser influenciado pelo Programa Universidade para Todos (ProUni), que dá mais de 150 mil bolsas por ano para alunos carentes em faculdades particulares.

“Tinha medo de sofrer algum tipo de preconceito”, diz o estudante do Ibmec São Paulo Fábio Santos, de 20 anos, que estudou em escola pública, tem pai desempregado e conseguiu uma bolsa da própria faculdade para cursar Administração. Ele conta que não conseguiu dormir no dia anterior ao início das aulas, pensando em como seria recebido numa instituição em que 81% dos alunos têm renda acima de 20 salários. Hoje, no terceiro ano, diz que nunca foi tratado de forma diferente por colegas e professores.

Para Luiz Eduardo Rizzo, também do Ibmec-SP, cujos pais pagam a mensalidade de R$ 2.250, a presença de pessoas de diferentes níveis socioeconômicos é importante para enriquecer o debate acadêmico. A colega, Thais Gaspar, concorda: “A universidade não pode ser uma bolha.”

Para o presidente do Inep, Reynaldo Fernandes, a quantidade de alunos que estudaram no ensino médio público nessas instituições também é significativa. São 33% do total. Nesse caso, os maiores índices são registrados nas faculdades particulares que formam professores, como o Instituto Superior de Educação Vera Cruz - ligado à escola de mesmo nome, na capital - que tem 66%. As licenciaturas tradicionalmente atraem jovens carentes.

O cruzamento de dados mostra ainda que 72% dos alunos das instituições de excelência estudam no período diurno, o que praticamente impede o trabalho durante o curso. Na Faculdade de Odontologia São Leopoldo Mandic, em Campinas, 94% não trabalham e são sustentados pela família. “Para estudar em uma instituição de excelência é preciso ter boa formação para passar em vestibulares concorridos e ainda ter dinheiro para pagar as altas mensalidades”, lembra Fernandes. “Realmente, o perfil do estudante dessas instituições, em geral, não é o perfil do jovem brasileiro.”

As informações sobre o perfil dos estudantes foram retiradas de questionários respondidos por eles mesmos, quando participaram de avaliações do MEC.

Renata Cafardo

Fonte: O Estado de São Paulo


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