sexta-feira, setembro 12, 2008

Admirável mercado novo

11/09/2008 - Abertura de capital, nova lei contábil, novos padrões de governança. O ambiente de negócios mudou. Veja o que você deve saber para se sair bem nesse cenário Por Roseli Loturco

Uma mudança em curso nas empresas de médio e grande porte no país está mexendo de vez com a carreira de profissionais em todas as áreas. A explicação está nos números e é bom ficar atento a eles, mesmo que sua formação não seja no setor financeiro. A participação acionária de fundos de investimentos no capital de empresas nacionais hoje é de cerca de 17 bilhões de dólares, ante 4 bilhões de dólares em 1998.

Com mais capital, muitas companhias investiram no aperfeiçoamento da gestão. E os seus executivos, ou quem almeja chegar a esse nível, precisam acompanhar as transformações que chegaram com os novos donos do dinheiro. Entender como as exigências de sustentabilidade têm impacto sobre o negócio, ter rapidez para se adaptar ao novo cenário e um jeito mais regrado de lidar com o fluxo de capital são algumas das características que se espera de quem trabalha, ou pretende fazer carreira, numa das empresas capitalizadas recentemente. Esse novo status fez do departamento financeiro o coração das companhias, já que o fluxo de dinheiro é maior e mais vigiado pelos acionistas e sócios.

E quem trabalha nessas organizações teve de se adequar à nova realidade não só das finanças, em que as mudanças foram mais sentidas, mas também ganhar uma compreensão mais global da empresa. “Da média chefia para cima, ninguém mais pode ficar apático em relação às novas regras contábeis internacionais, aos mandamentos de sustentabilidade e de novos negócios”, diz Patrícia Molina, sócia da consultoria KPMG na área de gestão e recursos humanos. Os profissionais ficam mais expostos e todo mundo acompanha os movimentos que influenciam o negócio. “Costumo comparar a empresa que abriu capital com a cozinha aberta de um restaurante. Todos acompanham os movimentos e habilidades do cozinheiro e os executivos têm que prestar contas ao mercado com freqüência, a cada três meses”, explica Patrícia. Somente no ano passado, foram 64 IPOs (oferta inicial de ações, na sigla em inglês) ante apenas sete em 2004. Um outro catalisador de mudanças é a consolidação de alguns setores da economia. Fu sões e aquisições têm se tornado mais comuns. O ano de 2007 foi o recorde de transações de compra e venda de empresas. Foram 699 operações.

JOGO RÁPIDO
O grupo Totvs, com sede em São Paulo, que comprou seis empresas nos últimos dois anos, mudou as exigências em relação a seus profissionais. Teve aporte de 12 milhões de dólares de um fundo de private equity, abriu capital em 2006 (quando levantou 460 milhões de reais em recursos) e comprou seis empresas desde então. A mais recente e estratégica foi a Datasul, de Santa Catarina. É um exemplo claro de como tem de mudar quem está em uma dessas empresas dinâmicas hoje. Em 1998, a Totvs, que ainda era Microsiga, tinha receita de 35 milhões de reais.

Em 2007, pulou para 490 milhões de reais e caso concretize a operação com a Datasul, ainda sub judice dos órgãos reguladores, saltará para 734 milhões. Nesse cenário, o advogado Flávio Balestrin, de 36 anos, saiu da diretoria de recursos humanos e passou para a direção de operações internacionais, área vital para uma empresa que quer se expandir — ela está hoje em 17 países.

O rodízio de funções foi um jeito que a Totvs encontrou para ampliar a visão de seus funcionários. “O que vai contar daqui para a frente para um executivo é sua capacidade de se reinventar de acordo com as mudanças rápidas do mercado”, diz Flávio.

O presidente da companhia resume o perfil de que eles precisam. “Queremos um executivo mais complexo”, diz Laércio Cosentino. Por isso é que tem gente correndo para se matricular nos bons cursos de finanças para executivos. “É uma competência essencial entender como funciona o fluxo de dinheiro na empresa”, diz Paulo Ferreira, diretor-geral do Instituto Superior da Empresa, associado ao Iese, escola de negócios da Universidade de Navarra, na Espanha.

O executivo brasileiro que acompanha essas mudanças passou a ser muito valorizado fora do país, porque as empresas nacionais se transformaram em multinacionais. “Nesse cenário, conhecer as finanças é necessidade básica para decidir estrategicamente”, diz Alfredo Assumpção, sócio da Fesa, empresa de recrutamento de executivos de São Paulo. “É comum ver gente que conhece leis contábeis e regras internacionais de governança”, diz Luis Motta, sócio da consultoria KPMG. Essa mexida no mercado colocou indústrias diferentes no mesmo grupo e juntou negócios distintos sob o mesmo logotipo. Assim, as companhias uniram pessoas e culturas também diferentes. Por isso, quem souber lidar com esses grupos diversos e trabalhar bem nessas equipes sai ganhando. “A profissionalização das empresas impõe também uma profissionalização de quem está à frente das equipes”, diz Magui Lins de Castro, sócia-diretora da Southmark, empresa de contratação de executivos em São Paulo.

Um exemplo do novo líder se vê na Sadia. Depois de quatro aquisições no mercado doméstico nos últimos dez anos, a empresa partiu para um modelo de internacionalização. No final do ano passado, abriu uma fábrica na Rússia, hoje deve investir 100 milhões de reais na construção de outra nos Emirados Árabes e valor igual em 2009 na Ásia. “Agora, quando contrato um gestor, penso que é fundamental que ele seja um agente de mudança nato”, diz Guillermo Henderson, diretor de negócios internacionais da Sadia. Foi assim que ele trouxe para sua equipe Fernando Erne, de 35 anos, que acaba de assumir a gerência-geral de operações internacionais. Na empresa há 12 anos, já passou por três áreas diferentes.

O que mais contou para o novo posto são os conhecimentos na área financeira, seu grau de persuasão, a compreensão de culturas adversas (ele morou fora do país) e o fato de ser generalista. “Também quando vou contratar dou preferência para quem já teve vivência internacional, pois esse executivo além de ter maior fluência em inglês terá mais facilidade em absorver outras culturas”, diz Fernando, que fez cinco contratações neste ano. Todos os departamentos das empresas estão envolvidos nas mudanças. Aliás, elas valem até para áreas que não existiam antes das aberturas de capital e afins. A evolução acelerada da importância das finanças no mundo trouxe novas áreas de atuação, e uma das mais fortes é a figura do profissional de relações com investidores (RI), vaga que não existia em muitas empresas, que hoje transita entre o financeiro e o marketing. Ele faz o meio-de-campo entre o presidente da empresa e os acionistas, tem de acompanhar todos os processos e apresentar o resultad o financeiro, decisões e metas assumidas de modo atraente e convincente para quem está colocando dinheiro na empresa.

Os profissionais de fusão e aquisição, advogados principalmente, também ganharam importância no novo cenário. Antigamente essa função — a análise de operações de compra e venda de empresas — era acumulada por um executivo da área comercial ou de novos mercados, agora entram no métier de grandes e médias corporações, com profissionais dedicados a elas integralmente. O objetivo é achar oportunidades de compras e integração de transações do mercado.

E, tanto esses conselheiros como qualquer outro profissional, é bom lembrar, tem de conhecer a fundo as regras de governança corporativa exigidas pela Comissão de Valores Mobiliários e as leis contábeis internacionais, como a Sarbanes- Oxley, que foi usada para punir fraudes em empresas como a Cisco, recentemente, no país. “A maioria das empresas que abre capital hoje o faz no Novo Mercado (que adota critérios mais rigorosos de transparência), o que impõe a seus líderes que adquiram mais conhecimentos financeiros”, diz Luis, da KPMG.

Fonte: Você S.A

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