sexta-feira, setembro 12, 2008

Caminhos a percorrer pela Educação

11/09/2008 - Caminhos a percorrer pela Educação

A escola surge como um pilar no seio das revoluções sociais, tecnológicas e económicas, mas são inúmeras as transformações que a desafiam.
Os computadores tornam-se parte integrante das nossas vidas quase à nascença. A Internet conquista cada vez mais utilizadores que não se limitam a navegar, mas também a publicar os seus próprios conteúdos pessoais. Surgem novas formas de participação política: as petições online ganham terreno, enquanto as mesas de voto perdem eleitores. Aumenta a esperança média de vida, mas a população mundial envelhece e poucas crianças nascem. Joga-se um equilíbrio perigoso entre activos e aposentados. Balançam as receitas dos impostos e as despesas da segurança social. Assiste-se a um aumento dos contratos temporários. Aumentam as famílias monoparentais. Cresce a tolerância com o divórcio, o aborto, a eutanásia, o suicídio. Rompe-se a tradicional rede de valores religiosos.
A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) reuniu uma panóplia de indicadores que quantificam o cenário descrito num estudo agora publicado: "Tendências que moldam a Educação" [Trends Shaping Education]. Ao longo das 86 páginas não se encontram soluções para os problemas abordados. Antes disso, é preciso promover a discussão em torno das várias incógnitas. E é disso que se trata neste documento.
Envelhecimento da população
O número de crianças nascidas nos países da OCDE é tão baixo que, apesar do aumento da esperança média de vida, as projecções apontam para um decréscimo de população, a longo termo. Para se perceber a queda da taxa de natalidade, veja-se que, em 1960, registavam-se três nascimentos por cada mulher com idade entre os 15 e os 49 anos, nos países da OCDE, mas 45 anos depois a taxa baixava para metade (entre os 1,3 e os 1,8 nascimentos).
Também a idade das mães aquando do nascimento do primeiro filho tem vindo a mudar: 28 anos em 2004. Enquanto, em 1970, a maioria das mulheres, nos países da OCDE, experimentava a maternidade aos 24 anos.
Não é de estranhar, por isso, o decréscimo de alunos nas sociedades actuais. Uma das consequências deste fenómeno é o número cada vez menor de professores necessários ao funcionamento dos sistemas educativos. E o encerramento de escolas, sobretudo nas zonas rurais. Neste cenário, como lidar com a redução da oferta educativa em algumas comunidades? A descida do número de alunos, alerta a OCDE, pode ser vista como uma oportunidade. Seja para aumentar os recursos disponibilizados para cada aluno, ou apostar em respostas educativas mais inovadoras, possivelmente difíceis de implementar com um maior número de alunos.
Outro fator explica o envelhecimento da população. No final do século XX, a esperança média de vida tinha duplicado mundialmente, por comparação com a registada em 1820. Persistem algumas disparidades: em África vive-se em média menos 25 anos do que na Europa Ocidental, Estados Unidos da América e Japão, por culpa do flagelo do HIV.
Ter uma vida mais longa acarreta profundas consequências não só na estrutura das sociedades como nas políticas sociais. A idade da reforma foi fixada nos 65 anos, quando se espera que os homens vivam em média mais 16 e as mulheres 20 anos, para lá dessa idade. Um número crescente de idosos vai permanecer activo durante mais tempo. Estima-se que em 2050, entre os países da OCDE, haja o dobro de pessoas com mais de 65 anos em relação aos com idades entre os 15 e os 64 anos. Como redefinir a tradicional função da escola de preparar os jovens "para a vida", quando esta deverá atingir os 80 a 90 anos?
Movimentos migratórios
Vivemos num planeta cada vez mais sobrepovoado. Com base em estudos demográficos das Nações Unidas, estima-se que a população mundial, actualmente de 6,4 mil milhões de pessoas, alcance os 8,9 mil milhões em 2050. Ao mesmo tempo, regista-se uma tendência para a urbanização com a esperada ruptura das infra-estruturas nas cidades e despovoamento do interior. No entanto, em alguns países da OCDE tem-se gerado um movimento de revitalização das zonais rurais, à medida que as pessoas abraçam novas formas de trabalho à distância para fugir à sobrelotação das cidades.
Também os níveis significativos de migração têm profundas implicações na escola. Países fonte de emigração para a Europa são agora destino de imigrantes. As mudanças ocorrem de uma geração para outra, tal como se verificou no caso da Espanha e da Grécia. A imigração traduz-se na percentagem de indivíduos nascidos no estrangeiro a habitar determinado país. Luxemburgo (33%), Austrália e Suíça (24%) e Nova Zelândia (19%), contam-se entre os países da OCDE com as maiores percentagens. Em grande contraste com os 5%, registados em países como: República Eslovaca, Finlândia, Hungria, Itália, Turquia e Polónia. Em sociedades cada vez mais multiculturais o que precisam os alunos de aprender para lidar com a crescente diversidade?
Economias do conhecimento
Globalização significa que as economias nacionais não se limitam a produzir para um único país. As exigências do "mercado global" fazem-se sentir na necessidade de constante inovação. Há muito se questiona se a escola estará nutrida da criatividade indispensável a essa mudança? Em tempos de economias do conhecimento, os sistemas educativos estão aptos a responder prontamente às suas exigências?
Uma das tendências do mercado de trabalho é o aumento dos contratos temporários, verificada desde a década de 80. À qual se acrescenta o emprego a tempo parcial, que, segundo a definição da OCDE, representa menos de 30 horas de trabalho semanal. Tradicionalmente, esta tem sido a fonte de emprego feminino, umas vezes por opção, outras por clara desvantagem. Actualmente emprega em média 26% das mulheres e 8% dos homens, nos países da OCDE. Valores baixos de que se demarca a Holanda: 60% das mulheres e 16% dos homens.
Tanto o trabalho temporário como o realizado a tempo parcial exigem uma busca de emprego permanente ao longo do percurso profissional. Estarão as escolas a preparar os jovens com as competências adequadas a esta necessidade?
Uma das tendências mais marcadas na educação é o alargamento da frequência escolar. À medida que o Ensino Secundário se torna quase universal, o melhor indicador desta expansão é o número de alunos a frequentar o Ensino Superior. Entre os países da OCDE, menos de um em cada cinco adultos com idades compreendidas entre os 55 e os 65 anos tem qualificações superiores, em contraste com um em cada três jovens entre os 25 e os 34 anos. Mas ainda que os mais novos sejam mais qualificados, alguns países situam-se abaixo da média da OCDE, com apenas um quinto de jovens diplomados, a saber: Áustria, Hungria, Portugal, México, República Eslovaca, Itália, República Checa e Turquia.
O investimento em educação, expresso em termos do custo anual por aluno, tem aumentado nos países da OCDE. A Suíça assume a liderança neste ponto, gastando mais de 10 mil dólares (cerca de 7 mil euros) por estudante. Em alguns países, o investimento em educação duplicou de 1990 para 2004. Caso da Grécia, Hungria, Irlanda, Polónia, Portugal, República Eslovaca e Turquia. No entanto, a OCDE esclarece que na maioria dos casos o aumento dos gastos em educação resulta mais da diminuição do número de alunos no sistema educativo do que de um investimento real. Na verdade, este é o principal factor na base dos investimentos realizados na República Checa, Grécia, Hungria, Japão, Polónia, Portugal e Espanha. A OCDE avisa ainda que os gastos com a educação - ao incluírem itens como o custo com salários do corpo docente e directivo, manutenção de edifícios e infra-estruturas e projectos especiais -, podem não traduzir uma melhoria das condições de trabalho no interior das escolas.
O Ensino Superior distingue-se do Básico e Secundário pelo célere aumento do número dos que o frequentam, mas também por uma ligeira queda no investimento realizado por estudante entre 1995 e 2004. São exemplo deste decréscimo: República Checa, Hungria, Polónia, Portugal, Suécia e Reino Unido. Quando os indicadores aparentam uma maior disponibilidade dos países para investir em educação, como tornar esse gasto mais eficaz? A questão deixada em aberto, pelo estudo, requer uma nota: grandes investimentos nem sempre se traduzem em melhores resultados escolares.
Geração (mais) digital
Os computadores tornaram-se parte integrante da nossa vida. As transformações sociais da revolução digital continuam a ser objecto de estudo, mas é evidente o impacto no modo como trabalhamos, fazemos negócios, conduzimos investigações científicas, nos divertimos. E até no modo como os Estados governam. Entretanto, diz a OCDE, este rápido desenvolvimento tecnológico está a tornar-se também fonte de exclusão. Em 2005, e aumentando desde essa data, 80% dos lares do Japão, Alemanha e Canadá tinham acesso a computador, 70% no Reino Unido.
A expansão também atinge a Web. Nos últimos dez anos o número de websites passou de cerca de 18 mil, em 1995, para 100 milhões, em 2007. Um súbito crescimento acompanhado pelo aumento dos utilizadores: 16 milhões em 1990, para mil milhões em 2006. Que não só se limitam a consultar a Internet, como também têm vindo a contribuir para a sua expansão com conteúdos pessoais: criação de blogs, partilha de vídeos e de artigos em enciclopédias online. A Web 2.0 cresce de forma massiva. Veja-se o aumento do número de blogs, de umas centenas em 2003 para 60 milhões em 2006, e a crescer rapidamente, garante a OCDE. Entretanto, estes indicadores têm gerado a discussão sobre os efeitos do avanço tecnológico na educação. De que modo afectará as capacidades e necessidades educativas dos alunos?
Mas se a ligação com a Internet está em forte crescimento, o mesmo não acontece em relação com o Estado. Assiste-se a um declínio na participação política dos cidadãos. Diminui o interesse dos votantes em eleições e a filiação partidária, por todos os países da OCDE. Ao mesmo tempo, surgem novas alternativas de participação política tais como a assinatura de petições, com um particular destaque para as que se realizam através da Internet, e o envolvimento em acções de protesto e boicotes.
Diversidade de estilos de vida
Não é novidade, a estrutura familiar tem vindo a mudar à medida das transformações sociais. No período de 1970 a 2004, a taxa de casamentos diminuiu na ordem dos oito para os cinco por cada mil habitantes ao ano. Já os divórcios duplicaram no mesmo período. Outros indicadores compõem esta tendência: um em cada cinco lares é constituído por famílias monoparentais. E cada vez mais casais optam, simplesmente, por viver juntos.
Nas sociedades actuais, as crianças estão a crescer no seio de variados estilos de vida, refere a OCDE. Como se equilibra a balança da responsabilidade entre a escola e a família na socialização das crianças, face a esta diversidade na estrutura familiar? É de esperar que os professores assumam mais responsabilidade? Sobretudo num tempo em que se desatam os laços de pertença aos grupos comunitários tradicionais como a igreja, clube local, associações e mesmo ao local de trabalho. E onde se assiste a outra grande mudança ao nível dos valores sociais.
Entram em declínio valores associados tradicionalmente à religião. Outros se edificam: maior tolerância para com o divórcio, o aborto, a eutanásia, o suicídio; menos respeito pela autoridade e baixo nacionalismo. A tónica está colocada na expressão da subjectividade individual, resume a OCDE.
Em todo o cenário de grandes mudanças, educar continua a ser, essencialmente, transmitir valores, sendo a escola um dos lugares onde cada geração os adquire, relembra a OCDE. Num mundo globalizado constituído por uma diversidade de opiniões, crenças e gostos, de que modo pode a escola contribuir para ensinar os jovens a lidar com a diferença? É mais uma incógnita deixada à reflexão.

Fonte: www.google.com.br

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