terça-feira, abril 05, 2011

Ensino nas redes sociais

Recentemente li (mais) um texto de George Siemens falando sobre o tema e daí resolvi - também baseado nele - escrever aqui sobre.

Nas últimas décadas as redes tecnológicas transformaram fortemente setores como televisão, produção, financeiro, música dentre outros, trazendo novas empresas, novos competidores, novos "jeitos" de competir. As redes sociais, impulsionadas fortemente por redes tecnológicas, vem na mesma linha transformando notícias, a comunicação, a interação entre as pessoas.george siemensImage by D'Arcy Norman via Flickr
A educação situa-se no nexo social/tecnológico das mudanças - e não sinto ela preparada para uma forte mudança transformadora. No entanto, a inovação sistêmica é necessária em todos os setores - inclusive no educacional. A pergunta feita pelo Siemens é essa: concentrando-se mais especificamente sobre como o ensino é impactado pelas redes sociais e tecnológicas, qual é o papel de um professor?


Este professor obviamente desempenha diversos papéis em uma sala de aula tradicional: é um incentivador, apoiador, guia, sintetizador. Mais importante, o professor oferece uma narrativa de coerência de uma determinada disciplina. Elege um livro didático, determina e seqüencia tópicos de aula e planeja as atividades de aprendizagem, tudo para desenvolver e oferecer a coerência de uma área temática.

Este modelo funciona muito bem quando podemos centralizar tanto o conteúdo quanto o professor, mas desmorona quando os conteúdos são multiplicados e espalhados em inúmeras fontes no intuito de ampliar a visão do aluno . Neste sentido simplesmente as redes sociais e tecnológicas subvertem o papel em sala de aula do professor.

O professor pode "levar" qualquer pessoa a sala de aula, antes limitada pelo seu conteúdo "pré-programado". Pode levar um especialista de história pelo skype, um de geografia via messenger, montar um projeto de química via TeamLab, discutir uma planilha com um especialista em finanças pelo Google Apps e por aí vai. Assim os alunos não se limitam apenas à interação com as idéias de um pesquisador ou teórico e sim podem interagir diretamente com os pesquisadores através do Twitter, blogs, Facebook, listas de discussão e um número quase que ilimitado de ferramentas (olha só o termo: ferramentas).

A voz do professor - em larga medida unitária - passa então a ser fragmentada pelas oportunidades ilimitadas das conversa disponíveis nas redes. Quando os alunos têm o controle das ferramentas de conversa, eles também controlam as conversas em que eles escolhem para participar - e com quem.

O conteúdo do curso passa a ser igualmente fragmentado. O livro está agora ampliado com vídeos do YouTube, artigos on-line, simulações; o Second Life cria museus virtuais, são checadas as trilhas de conteúdo no Diigo, reflexões no StumpleUpon, e assim por diante.

E daí vem outra pergunta com uma resposta interessante do Siemens: qual é o impacto da conversa/fragmentação de conteúdo?

Os cursos tradicionais fornecem uma visão coerente de um sujeito. Essa visão é moldada por "resultados de aprendizagem" (ou objetivos). Estes resultados traduzem - ou vem - da seleção do conteúdo e da concepção de atividades de aprendizagem. Idealmente, os resultados e o conteúdo/currículo/instruções são então alinhados com a avaliação.

É tudo muito lógico: nós ensinamos o que dizemos que vamos ensinar, e então avaliar o que dissemos que iríamos ensinar. Este mundo acolhedor e confortável do alinhamento, os resultados de instruções-avaliação só existe na educação. Em todas as outras áreas da vida, a ambigüidade, a incerteza, e o desconhecido reinam.

A fragmentação do conteúdo e da conversa está prestes a romper essa visão bem-ordenada de aprendizagem. Educadores e universidades (infelizmente poucas, mas já é um começo) estão começando a perceber que eles não têm mais o controle que um dia tiveram; e será assim daqui prá frente.

Como podemos alcançar resultados claros através de meios distribuídos? Como podemos alcançar os objetivos de aprendizagem quando o educador já não é capaz de controlar as ações dos alunos?

No futuro o papel do professor, o educador, será muito diferente do atual. Dado que a coerência e a lucidez são fundamentais para a compreensão do nosso mundo, como os educadores ensinam nas redes? Para os educadores que virão, controles serão substituídos por influência. Em vez de controlar uma sala de aula, um professor terá influência sobre ela. Ele terá vários papéis ampliando, fazendo a "curadoria", orientando socialmente, agregando, filtrando, modelando e estando presente de forma significativa na rede dos alunos.

Nas redes sociais nós encontramos nosso caminho através da exploração ativa. A rede ajuda o aluno a "fazer sentido" na complexidade das áreas do conhecimento, não confiando apenas em sua própria leitura e exploração de recursos, mas permitindo esta rede social filtrar os recursos e chamar a atenção para temas importantes. Para que essas redes trabalhem eficazmente, os alunos devem estar conscientes da necessidade de diversidade e devem incluir perspectivas críticas ou antagônicas em todas as áreas temáticas (sensemaking).

O que você faz quando você conhece alguém? A probabilidade de procurá-lo no Google ou Facebook é muito alta, ou mesmo em redes como pipl quando nada consegue; você insiste. Sem uma identidade on-line, você não pode se conectar com outras pessoas - conhecer e ser conhecido e tal qual fala o meu "inspirador" não estou exagerando a importância de ter uma presença viva nas redes - principalmente se você quer ensinar, ter uma narrativa de coerência com seus alunos.

Continua a dificuldade, mas também insisto. Ferramentas novas - todas com menos de 10 anos de idade - vindo, mexendo e revirando meios centenários - e ultrapassados - de aprendizagem causam realmente uma série de perguntas. A questão central é se podemos pensar a vida sem elas, seja lá qual nome You Tube, Facebook, Google e centenas de outras vierem a ter no futuro. O importante é atentar para o meio onde elas crescem de forma vigorosa, consistente e - reafirmo - sem volta: as redes.

Não adianta desconversar, achar que é temporário, que é moda. Foi assim com a tecnologia da informação há algumas (e poucas) décadas onde muitos e muitos céticos diziam que era uma moda passageira e tiveram suas organizações aniquiladas por quem investiu em inovação e processos tecnológicos apoiados por TI. Vai ser assim com a mobilidade, com as tecnologias móveis: mais um capítulo de forte evolução baseada principalmente na conveniência das pessoas, com números que não param de crescer vertiginosamente desde quando surgiram. E assim também com as redes sociais. A aprendizagem nunca mais será (nem poderá) ser a mesma. Ainda bem!
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Um comentário:

  1. Olá Giancarlo,
    Muita boa reflexão, aliás ótima!
    Concordo plenamente!
    Grande abraço,
    Mário Ferreira

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