quarta-feira, março 25, 2009

E a EAD avança, felizmente

Trabalho no mercado de educação desde 2002, e com um plano de negócios que faz agora 10 anos. É um bom tempo desde o projeto inicial quando o negócio ainda gatinhava para os dias de hoje, onde grandes grupos empresariais de educação - como Veris, Ulbra, FGV - chegando nele, assim como empresas criadas para serem líderes nesse segmento, como a EADCON. Grupos tradicionais de educação começaram a deixar suas diferenças de lado para investirem neste segmento que hoje tem mais de 1 milhão de estudantes e uma receita estimada em mais de R$ 1 bilhão.

Vi recentemente a Veris, dona de várias instituições tendo o IBMEC como referência (exceto o IBMEC São Paulo que mudará de nome em breve), apostando alto com curso de pós voltados às classes A e B, com cursos na casa dos R$ 20 mil, pouco menos do que custa o seu presencial. E aí está a questão.

Tem empresas que posicionam produtos deste tipo (EAD) pela metade, um terço do preço do presencial derrubando assim a percepção de valor e qualidade dos potenciais compradores. O curso presencial no IBMEC custa R$ 23 mil, ou seja, a Veris optou (e fez o correto!) trabalhar o curso a distância na faixa de 80 a 90% do presencial. E, com sua qualidade, não duvido que cheguem antes dos cinco anos previstos para a EAD representar 20% do faturamento do Grupo Veris. Se tem alguém que coloca suas fichas no local certo é quem capitanea o Grupo Veris, que com a missão de" ser o melhor grupo empresarial do Brasil no setor de educação superior" está mostrando que a EAD pode e tem, sim, qualidade para ser posicionada e atender a todos - e não apenas ao seu restrito mercado geográfico.
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A chegada do Ibmec é o mais recente sinal do crescimento do mercado de ensino a distância no Brasil. Entre 2004 e 2007, o número de alunos matriculados em cursos técnicos, de graduação e pós-graduação desse segmento cresceu 214% e chegou a quase 1 milhão de estudantes (veja quadro na pág. 108). Hoje, 7% dos 5 milhões de universitários brasileiros estudam longe das salas de aula, participando de cursos que vão de enfermagem a pedagogia, de administração de empresas a turismo. Em 2007, o setor movimentou cerca de 1,5 bilhão de reais. Uma conjunção de fatores é responsável por esse crescimento. Um deles é a dimensão do Brasil, que dificulta o acesso às aulas presenciais àqueles que vivem em cidades mais remotas. Outro é o preço. Segundo dados da consultoria Hoper, especializada em educação, um curso de graduação a distância custa em média 168 reais por mês, ante 457 reais de um tradicional. O terceiro fator é a comodidade, já que o aluno não precisa se deslocar até a universidad e e tem um horário de estudo mais flexível. "Essa modalidade de ensino vai continuar a crescer pelo menos 20% ao ano no Brasil", diz Frederic Litto, presidente da Associação Brasileira de Educação a Distância.
A previsão otimista descola o ensino a distância do ambiente de incertezas vivido por instituições centradas no modelo tradicional. Um levantamento recém-divulgado pelo sindicato das universidades privadas de São Paulo aponta que 41,5% das escolas tradicionais vão ter menos alunos em 2009. Em outros estados brasileiros, a situação se repete. A Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), por exemplo, localizada em Canoas, no Rio Grande do Sul, viu o número de alunos presenciais cair de 65 000 em 2006 para 41 000 em 2008. No mesmo período, seus estudantes a distância passaram de 1 500 para 91 000. "Esses cursos custam metade dos tradicionais e atraem um público mais velho, que já havia parado de estudar e se sente novamente motivado", afirma Antônio Sanches, diretor da Ulbra.

Assim como a Ulbra, quem saiu na frente e hoje domina esse mercado são instituições voltadas para as classes C e D. A Universidade Norte do Paraná (Unopar), por exemplo, com sede em Londrina, começa 2009 com 125 000 alunos assistindo a aulas por satélite em todos os estados brasileiros - dez vezes mais que os alunos matriculados em seus cursos presenciais. Para atender a esse público crescente, nos últimos seis anos a Unopar construiu nove estúdios de televisão de onde transmite suas aulas para todo o país.

O mercado de ensino a distância já desperta a atenção de investidores do Brasil e do exterior. O fundo de private equity Pátria, controlador da rede de ensino Anhanguera, por exemplo, incorporou nos últimos dois anos a Uniderp, de Mato Grosso do Sul, e a Luiz Flávio Gomes, de São Paulo, instituições com experiência e licenças nacionais para operar cursos de graduação e pós-graduação a distância. Com isso, hoje suas faculdades contam com 93 000 alunos matriculados em cursos a distância - responsáveis por quase 20% do faturamento total, de 650 milhões de reais em 2008. Em seu caminho, a Anhanguera deve começar a enfrentar a concorrência de grandes grupos internacionais. Um deles é o Laureate, que em 2008 faturou 2 bilhões de dólares em todo o mundo e controla no Brasil a Universidade Anhembi Morumbi, entre outras escolas. Por enquanto, o Laureate tem apenas 1 000 alunos inscritos em cursos a distância no Brasil. Para expandir os negócios no segmento, deve iniciar aulas por saté lite no segundo semestre - até agora a única tecnologia usada pelo Laureate é a internet.

Outro grupo que planeja entrar com força no mercado brasileiro ainda neste ano é o Apollo Global, braço internacional da maior companhia mundial de ensino a distância, a americana Apollo Group, que faturou em 2008 quase 3 bilhões de dólares. O Apollo já tem negócios em países como China e Índia, onde o mercado de ensino a distância está se tornando gigantesco - a universidade indiana Indira Gandhi, por exemplo, a maior do país, tem 1,8 milhão de alunos matriculados nesse tipo de curso. Quatro profissionais do Apollo estão trabalhando em tempo integral no Brasil para encontrar um parceiro local. "O país é uma de nossas prioridades não só pelo tamanho mas pela facilidade com que a população se adapta a novas tecnologias", diz o americano Jeff Langenbach, presidente do Apollo Global. No caminho inverso, a paranaense Eadcon, instituição que lidera o mercado brasileiro, somando cerca de 140 000 alunos, iniciou neste ano sua primeira operação fora do Brasil. O local escolhido foi a Colômbia. A meta é chegar a 8 000 alunos em 2009 e, a partir do próximo ano, usar o país como base de expansão para toda a América Latina. "Se no Brasil sofremos concorrência de grupos estrangeiros, é natural que também busquemos outros mercados", afirma o colombiano Julian Rizo, presidente da Eadcon.

A expansão do setor não apenas trouxe novos concorrentes como também fez com que o Ministério da Educação apertasse o cerco às instituições. Uma das medidas mais drásticas foi tomada em 2007. O governo passou a exigir que as instituições instalem computadores e bibliotecas nos chamados polos de ensino - estruturas com professores para tirar dúvidas nas cidades em que há alunos matriculados em cursos a distância. Foi um golpe duro para muitas escolas. A Eadcon, por exemplo, admite que pelo menos 500 de seus 1 400 centros - basicamente salas com aparelhos de TV - ainda vão precisar passar por grandes mudanças. Para Ryon Braga, da consultoria especializada em educação Hoper, essa nova regulamentação só vai acelerar um processo natural. No médio prazo, os olhos dos investidores tendem a se voltar para instituições bem estruturadas, com modelos de negócios consistentes. Braga calcula que pelo menos 15 fundos de investimento têm interesse no mercado de ensino a distância, mas para atrair sua atenção as instituições vão precisar de gestão transparente e projetos de longo prazo. "Nenhum país do mundo tem tantas instituições oferecendo ensino a distância, e a tendência é de uma consolidação natural no mercado brasileiro", diz.


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