sexta-feira, novembro 28, 2008

A educação e o preparo profissional no Brasil

28/11/2008 - Recente pesquisa do Banco Interamericano de Desenvolvimento apresentou a constatação que "de cada 100 brasileiros entre 15 a 19 anos, 72 não estão preparados para conseguir uma boa colocação no mercado de trabalho". Realmente, é um dado preocupante e, pior, é empiricamente constatável. O despreparo dos jovens para tentar concorrer às poucas oportunidades de emprego no mercado formal de trabalho é inquestionável.

Alguns fatores potencializam o "mundo do faz de conta" em que vivemos na educação em todos os níveis. Os professores mal pagos e desestimulados não encontram motivação para atingir a intensidade de dedicação que o ensino exige. Muitas vezes, despreparados em conseqüência da educação que lhes foi ministrada e sem alternativas no mercado profissional mais exigente, aceitam participar da farsa, "fingindo que ensinam" a alunos que "fingem que aprendem".

Uma parte dos alunos por seu turno, com a natural falta de percepção do futuro que caracteriza a imaturidade, prefere os professores pouco exigentes que permitem um menor esforço e uma garantia de maior aprovação. Não percebem estes jovens que, ao chegarem ao mercado de trabalho, lhes serão exigidos resultados e, para obtê-los, é essencial possuir um arsenal de alternativas e formas de fazer que só um processo cognitivo bem estruturado é capaz de oferecer.

Neste quadro, os políticos encontram soluções brilhantes, como a proibição de reprovação em escolas públicas. Os alunos que não aprenderam o conteúdo programático de uma série passam para a próxima, como se não houvesse uma relação de dependência construtiva no processo de formação.

Os conteúdos e a quantidade de disciplinas são exagerados; os programas nas melhores escolas exigem uma carga de estudos e absorção de conhecimentos que provavelmente não serão usados ao longo da existência profissional futura dos alunos.

Outro ponto questionável é o "bacharelismo" brasileiro, que tem suas origens nos séculos passados. Os latifundiários enriqueciam com suas fazendas e plantações, mas não logravam ascender aos níveis sociais mais elevados, reservados aos portadores de títulos nobiliárquicos. Para suprir esta impossibilidade, mandavam seus filhos estudar medicina ou direito na Europa ou nas capitais e voltar com o título de "doutor" embora fossem continuar a obra de seus pais na fazenda.

Não é razoável nem possível esperar que num país em desenvolvimento com índices de educação baixos, tecnologia deficiente, produção baseada na intervenção humana, pretenda-se uma estrutura de emprego predominantemente voltada para o nível superior.

Assim, a pirâmide de empregos deverá contemplar em sua base técnicos de primeiro e segundo graus; em seu ponto médio, tecnólogos (tipo Two Years College); e, no cume, pessoal formado em nível superior.

Dessa forma, ao terminar o primeiro grau, alguns alunos poderiam decidir ou optar pelo ingresso no mundo profissional, acrescentando conhecimento de outros graus se assim sentissem necessidade, mas podendo trabalhar e contribuir para o setor produtivo com mão-de-obra especializada em seu respectivo grau.

Hoje, no Brasil, sobram vagas de emprego formal nos níveis técnico-especializado de segundo grau profissional, ao mesmo tempo em que se contemplam multidões de desempregados com primeiro e segundo graus universais. Profissionais de nível superior candidatam-se e obtêm as vagas de nível médio técnico buscando o caminho da independência econômica e, muitas vezes, cometendo o erro de não considerar a desmotivação provocada por tarefas inferiores à sua competência formal.

Os concursos públicos, com suas legiões de candidatos para um punhado de vagas, servem para iludir muitos – sempre esperando serem bafejados pela sorte de obter um posto estável e uma remuneração condigna – e, na realidade para locupletar poucos.

O Brasil paga o preço de seu imediatismo e das políticas equivocadas e oportunistas, no campo da educação. Na década de 1980, após o milagre econômico, o governo abandonou o ensino técnico profissional de nível médio, caro e exigente, mas essencial às necessidades profissionais e de produção do país. Educação é política de longo prazo, supera um ou dois mandatos outorgados pela sociedade aos governantes e políticos. E esses jamais se preocupam com lapsos de tempo que superem sua permanência no poder.

Jorge Fernando Valente de Pinho

fonte: JBrasil

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