sexta-feira, outubro 10, 2008

MEC prevê R$ 1 bi para formação de professores + Professor de 1ª a 4ª série é o que menos evolui na faculdade]

Estadão, 10out2008
O MEC (Ministério da Educação) pretende usar R$ 1 bilhão para incentivar os Estados a elaborarem planos de formação de professores usando a capacidade de suas universidades estaduais, municipais e federais. Os projetos terão de ser aprovados pelo governo federal para receber a verba.

A medida faz parte do Sistema Nacional Público de Formação de Profissionais do Magistério, a ser criado com o objetivo de suprir a falta de docentes na rede pública.

Um decreto que regulamenta o novo programa será apresentado hoje e aberto à consulta pública. Estima-se que seriam necessários 100 mil professores a mais por ano para suprir a demanda no país."Nós sabemos que a formação de qualidade está nas universidades públicas. Queremos dar escala e formar cada vez mais professores", disse ao Estado o ministro da Educação, Fernando Haddad.

A nova medida foi motivada pela constatação de que mais de 70% dos docentes aptos a lecionar no ensino básico se formam em universidades privadas.

O sistema prevê investimentos tanto para graduação quanto para educação continuada dos professores. O dinheiro do governo federal deverá ser usado para pagar bolsas aos professores das instituições que queiram se dedicar aos cursos de formação de docentes. Materiais didáticos também serão financiados pelo MEC.

O que chama a atenção no sistema é o fato de a União montar planos conjuntos e oferecer dinheiro não só para universidades federais, mas também para estaduais e municipais, algo inédito.

Folha, 10Out2008
Pesquisa mostra que alunos de cursos de formação de professores têm menor evolução em notas durante o estudo

MEC admite que há problemas na qualidade dos cursos de normal superior e pedagogia e, por isso, vai anunciar mudanças hoje

FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL

Os universitários que se formam em cursos de preparação de professores são os que menos evoluem durante o ensino superior, aponta um estudo do pesquisador José Carlos Rothen, da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos).

A pesquisa analisou a variação das médias dos calouros e dos formandos em 28 cursos superiores, com base no Enade (antigo Provão), para indicar quanto os alunos "melhoram" durante o ensino superior.
Na área de formação de professores, a nota subiu apenas 8%, a menor variação da lista. Nesse grupo estão considerados os cursos que formam docentes especificamente para a educação infantil e as primeiras quatro séries do fundamental (normal superior).

Foram considerados os resultados nos exames de formação geral e específica. O maior crescimento de notas ocorreu em arquitetura e urbanismo (35%), seguido de computação (31%) e engenharia (27%).
Em pedagogia, que também forma professores para as séries iniciais da educação básica, o crescimento foi de 15% -abaixo da média do universo analisado, que ficou em 18%.

Uma das principais diferenças entre pedagogia e normal superior é que o primeiro forma os educadores também para atuarem em cargos de direção e supervisão escolar. "Uma hipótese para explicar os dados é que há problemas de organização nos cursos de formação de professores", disse Rothen, cujo trabalho será apresentado neste mês na reunião anual da Anped (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação). Rothen trabalhou com a pesquisadora Fernanda Nasciutti, do Centro Universitário do Triângulo (MG).

Estudo feito no final do ano passado pela consultoria McKinsey apontou que a qualidade dos professores é a principal preocupação dos países com as melhores notas no Pisa (exame internacional de aprendizagem), como a Finlândia.

Plano

O MEC informou ontem que admite que há problemas na qualidade dos cursos de formação de professores (tanto do normal superior quanto de pedagogia). Por isso, anunciará hoje a criação do Sistema Nacional Público de Formação de Professores. A idéia é envolver mais as instituições públicas na área (hoje predominada pelas universidades privadas).

O governo Lula espera também que as faculdades tornem seus currículos mais próximos aos conteúdos utilizados na sala de aula -atualmente, há a crítica de que o curso de pedagogia discute muita teoria, mas possui pouca prática.

Análise

Pesquisador da USP de Ribeirão Preto, José Marcelino Rezende Pinto cita características específicas da área que podem prejudicar o desempenho. "Em geral, boa parte dos alunos já é professor, e tende a achar que não tem muito o que aprender. Acabam ganhos pelo discurso cristalizado na escola de que as crianças não aprendem porque as famílias são "desestruturadas" ou devido à progressão continuada."
Outro problema, diz Pinto, é que faltam boas escolas para os futuros docentes estagiarem.

Para a coordenadora do curso de pedagogia da Unicamp, Ângela Soligo, os maus desempenhos dos cursos que preparam os professores demonstra a "falta de prioridade para a educação" no país. "É nessa área que mais aparecem cursos a distância ou de duração mais curta. Vê se isso ocorre em medicina, engenharia", afirmou.


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