segunda-feira, julho 28, 2008

Quick Note - Campus da UFSCar em Sorocaba: prédio e estrutura pedagógica com base na sustentabilidade

24/07/2008 - Em busca de um diferencial no mercado de trabalho, alunos procuram instituições que incluem a sustentabilidade na grade de seus cursos

Antonio Carlos Santomauro

Tema recorrente do mundo corporativo, o conceito de sustentabilidade também foi incorporado na gestão de diversas instituições de ensino superior. Recentemente, porém, a demanda do mercado de trabalho por profissionais familiarizados com o assunto gerou outro comportamento: a inclusão do desenvolvimento sustentável em disciplinas da graduação, independentemente da área de conhecimento. Além de ser um diferencial para a instituição de ensino, a mudança pedagógica tem revertido inclusive em aumento na procura pelos cursos que incluem sustentabilidade no currículo.

A Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), por exemplo, adotou o conceito no campus de Sorocaba, inaugurado em 2006, desde a construção das instalações físicas até a estrutura pedagógica dos sete cursos disponibilizados. A disciplina pode ser ministrada tanto em aulas de economia ecológica, no curso de Economia, quanto em atividades práticas, como no curso de Ciência da Computação. "Eles realizam, por exemplo, modelagens estatísticas simulando o momento no qual uma cidade torna-se sustentável", explica o coordenador do campus, José Salatiel Rodrigues Pires.

O conceito de sustentabilidade também vai permear o currículo dos sete novos cursos previstos para serem abertos no campus a partir do ano que vem, adianta Pires.

Porém, a maior parte das atividades vinculadas ao tema é desenvolvida nas chamadas disciplinas integradoras, disponibilizadas para os alunos de vários cursos, caso de Avaliação de Impactos Ambientais e Metodologia Científica.

A integração de cursos é qualificada como o modelo mais eficaz de abordagem do conceito, avalia o consultor de estratégias em sustentabilidade Antonio de Loureiro Gil. "Geralmente o tema é oferecido de maneira compartimentada, de acordo com o viés de cada profissão, mas precisa atravessar os vários conteúdos", defende. "As instituições de ensino superior devem ter alguém que pense nas maneiras de desdobrar esse conteúdo integrado nos diferentes cursos", recomenda Gil.

Para o também consultor Ricardo Voltolini, da consultoria Idéia Sustentável, a sustentabilidade deve ser incluída nas grades de "maneira transversal", ou seja, em algum momento precisa ser abordada nas diversas disciplinas. "As instituições de ensino superior devem convencer seus professores a essa abordagem", enfatiza.

Exemplos de cursos nos quais o tema perpassa todo o conteúdo têm se tornado comuns e gerado resultados positivos para as instituições de ensino. É o caso do curso de Economia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC/RS). Desde 2005, sustentabilidade é tema básico do projeto pedagógico, sendo abordada nos oito semestres de duração do curso em matérias como Desenvolvimento Social Sustentável e Economia da Sustentabilidade. "Esse tema é incluído também em disciplinas anteriormente existentes, como Direito, que passou a abordar Direito Ambiental", detalha Leandro de Lemos, coordenador do departamento de Economia da PUC/RS.

Roberto Peixoto, pró-reitor acadêmico da Mauá: receptivo aos alunos já inclui discussão sobre o tema
Desde então, o curso teve tanta procura que a PUC/RS decidiu aumentar o número de vagas em mais de 100%. Todas foram preenchidas. "Também aumentaram muito os pedidos de transferência, inclusive de alunos que estudavam Economia em escolas públicas, mas preferiram nosso curso", diz Leandro de Lemos.

Para o consultor Ricardo Voltolini, algumas razões objetivas contribuem para explicar o interesse dos alunos pelo tema. "Em grandes empresas, um curso ou uma experiência extra na área da sustentabilidade já constituem um item favorável a um candidato a uma vaga de emprego", afirma.

Para Antonio de Loureiro Gil, se ainda não pode ser decididamente qualificada como diferencial na disputa pelo mercado de trabalho, a familiaridade com o conceito de desenvolvimento sustentável logo atingirá esse estágio. "O profissional de Recursos Humanos precisa contratar gente alinhada com as estratégias das empresas e sustentabilidade já é algo estratégico no mundo empresarial", justifica.

Mas há quem defenda que o interesse dos alunos vai além das razões profissionais. "Esse tema gera debates acalorados, mobiliza a atenção dos alunos", acredita o diretor do campus de Sorocaba da UFSCar, José Salatiel Rodrigues Pires.

Desde o começo do ano, o curso de Engenharia Química da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), em São Paulo, anuncia "ênfase em sustentabilidade e energia". Entre as disciplinas estão gestão da água, química orgânica dos combustíveis e fundamentos da energia. "Pesquisamos cursos similares em instituições como Berkeley, Stanford e o Massachusetts Institute of Technology", relata Francisco Paletta, diretor da Faculdade de Engenharia e da Faculdade de Computação e Informática da Faap.

Mas por que investir na mudança de ênfase na Engenharia Química? "A engenharia precisa agora considerar duas questões: matriz energética e aquecimento global", responde Paletta.

Atentas a essa particularidade, em 1999 as Faculdades Oswaldo Cruz - cuja origem remonta aos cursos de química -, criaram o Prêmio Case de Meio Ambiente, destinado a reconhecer ações de sustentabilidade ambiental desenvolvidas por empresas. O prêmio teve apenas uma edição, mas, de acordo com Nelson Cesar Bonetto, diretor acadêmico das Faculdades Oswaldo Cruz, há planos para sua retomada ainda este ano.

Segundo Bonetto, todos os cursos da Oswaldo Cruz atualmente consideram a sustentabilidade. "A ênfase é ainda maior na licenciatura, pois dela saem os professores com a responsabilidade de formar as novas gerações", acrescenta.

A Universidade do Grande ABC (UniABC) também investe em ações destinadas a qualificar os educadores. "Recentemente, enviamos um grupo de professores para um evento sobre sustentabilidade na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo", conta Angelo Lotierzo Filho, diretor acadêmico da UniABC.

Na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), os educadores podem se aprofundar no tema aderindo ao programa de qualificação Academia de Professores, que é composto por dois módulos: básico (obrigatório) e avançado (optativo). "Incentivamos de maneira muito concreta a participação dos professores também no módulo avançado", afirma Alexandre Gracioso, diretor nacional de cursos da ESPM.

O tema também pode ser abordado periodicamente em eventos. A ESPM criou o ciclo anual de palestras e debates Semana do Terceiro Setor da ESPM, cuja terceira edição ocorreu em abril último, na qual a sustentabilidade foi assunto obrigatório. Os alunos também estudam o conceito na ESPM Social, empresa de consultoria para ONGs e terceiro setor de cujas atividades participam anualmente cerca de 60 alunos. E alguns dos cursos, como Administração de Empresas, incluem a disciplina Responsabilidade Social. "Mas esse tema hoje está presente em todos os nossos cursos", afirma Gracioso.

No Centro Universitário do Instituto Mauá de Tecnologia, os conceitos de sustentabilidade são utilizados logo no evento de recepção aos novos alunos. A disciplina Engenharia Ambiental, antes oferecida quase como especialização nas etapas finais dos cursos de Engenharia, passou a ser ministrada no começo do curso, há cer­ca de três anos. "Esse conhecimento agora é básico", justifica Roberto Peixoto, pró-reitor acadêmico da Mauá. Segundo ele, o Instituto Mauá ainda não tem um programa formal de inclusão do tema sus­tentabilidade nos conteúdos, mas os cha­mados coordenadores de habilitações já o consideram quando discutem com os professores os respectivos planos de ensino.

Para o diretor acadêmico da UniABC, Angelo Lotierzo Filho, em breve o tema deve fazer parte inclusive da política do Ministério da Educação. "Assim como sugere a colocação do tema empreendedorismo nos cursos de Tecnologia, logo o MEC deverá incentivar a presença do tema sustentabilidade nos conteúdos do ensino superior", prevê.

Fonte: Revista Ensino Superior

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