quarta-feira, julho 02, 2008

É possível fazer cursos totalmente a distância?


Hoje vamos comentar uma notícia recente publicada no Universia, tratando que apesar do crescimento expressivo da EAD recentemente - mensurável, entre outros fatores, pelo aumento na oferta de vagas de cursos a distância nas instituições - oferecer cursos no formato 100% não-presencial ainda divide especialistas.

Quem defende a modalidade como saída para driblar a exclusão no Ensino Superior aposta na viabilidade do modelo apenas em longo prazo. Os mais radicais, no entanto, não a consideram viável nem assim. Continuam a defender 20% de aulas presenciais para manter o contato do aluno com o professor e sua integração social.

A principal questão prática apontada por especialistas para que a proposta de cursos 100% não-presenciais continue a gerar tanta polêmica se deve ao fato de que a inclusão digital no Brasil ainda não é uma realidade. Isso significa que não são todos os estudantes com a preparação tecnológica exigida por esse tipo de curso. Muitos dependem dos pólos de apoio para estudar. Em alguns casos, estes pólos são muitos distantes das casas dos alunos. Sendo assim, o deslocamento, por si só, já seria um fator de exclusão.

Claro que eá existem diferentes pontos de vista - o que amplia positivamente a discussão. Em nossa opinião há - como em vários setores no país - um pé fincado no que passou, num passado moroso sem vista de futuro. Quando nos remetemos à falta de condição deste ou daquele setor, desta ou daquela localidade estamos também excluindo quem tem a condição e quem está em localidades onde há efetiva possibilidade de fazer algo. Pensando nos que não podem também excluímos os que podem - o que é incoerente e carrega o mesmo atraso.

Maria Beatriz Gonçalves, diretora de EAD da PUC-Minas (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais), defende que não é possível haver aulas sem nenhum encontro presencial. Segundo ela, algumas atividades devem ser realizadas presencialmente, como provas - para evitar fraudes - e práticas de laboratório. Fora tais atividades, todo o conteúdo restante pode ser passado de forma virtual, mas falar em ensino totalmente a distância ainda não é possível no país, já que os pólos de EAD são necessários para promover a inclusão de alunos carentes o que parece ser coerente com a sua atividade em nível superior.

O Prof. Waldomiro Loyolla, presidente do Conselho Científico da ABED (Associação Brasileira de Educação a Distância) onde somos mantenedores e "vorazes colaboradores", acredita que outro fator de impedimento para a realização de cursos 100% a distância são os recursos financeiros necessários para dispor dos aparatos tecnológicos fundamentais para se estudar em casa. Seu fundamento baseia-se em que a EAD totalmente on-line exige uma um aparato tecnológico dos alunos pois trata-se de um custo alto com o qual muitos não têm como arcar; daí a criação de pólos de apoio - outra alternativa para incluir pessoas com real interesse.

Há ainda outros comentários nesta mesma linha "não 100% a distância". Contudo - e aí vale a observação - todos são vindos de IES como a FGV (onde estudei), o Mackenzie (que muito admiro). Não há diálogo estabelecido com empresas que tem em seus quadros alunos formados em em cursos nesta modalide ou, indo mais longe, com os próprios alunos, ex-alunos, formados, desinformados, desistentes ou os persistentes. Este é o universo carente de pesquisa. E o lado prático da história.

Há claramente no país um "buraco" negro entre o ensino fundamental e o superior e que sentimos aumentar a cada dia que passa com as notícias que versam sobre o crescimento das atividades refletidas no PIB versus a falta de preparo, de qualificação, de gente com diploma do ensino médio - nosso efetivo gargalo.

Todos sabemos das dificulades da EAD mas elevá-las e chamá-las de "problema" é um outro degrau. Há um claro atraso no discurso sempre buscando um "culpado", quando na verdade deveríamos todos trabalhar na convergência de uma solução que tem verbo: fazer. Discutir, estressar as possibilidades, procurar o caminho deve ocorrer em qualquer situação. Contudo a diferença está em fazer algo pois o tempo passa e a competitividade bate a nossa porta.

Existe sim um ponto que observamos ser comum: graduação superior tem que ter algum encontro presencial. E nós entendemos que presencial é uma situação de mesmo tempo, síncrono (como um "live webcast", por exemplo) e não necessariamente no mesmo espaço físico. Pós-graduação, cursos livres, cursos certificados podem seguir o mesmo modelo ou ser 100% a distância, tudo dependendo do seu conteúdo, do seu objetivo instrucional, do seu suporte e da competência como é explicitado aos interessados.

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