quinta-feira, julho 10, 2008

Ensino brasileiro busca expansão no exterior

O ensino privado, com gigantes do setor como Anhanguera Educacional e Kroton Educacional, acirra planos ousados de expansão que englobam também o início de operações a médio e longo prazo na América Latina, além de triplicar o número de unidades nos próximos cinco anos.

A estratégia pode ser considerada uma reação ao assédio do setor no País, que atrai cada vez mais conglomerados estrangeiros, como o norte-americano Apollo Group, que fez uma oferta de R$ 2,5 bilhões pelo grupo Objetivo, formado pela Universidade Paulista (Unip) e mais 46 faculdades controladas pelo empresário João Carlos Di Gênio.


Em entrevista exclusiva, Antonio Carbonari Netto, presidente da Anhanguera - que obteve receita líquida de R$ 273,5 milhões em 2007 e crescerá 100% este ano -, afirmou que o grupo deverá ser o maior conglomerado educacional do mundo até 2012, chegando a 400 mil alunos. Nascida em Valinhos (SP), a instituição ganha musculatura com os R$ 868,3 milhões captados no mercado de capitais com duas ofertas públicas de ações realizadas entre 2007 e 2008.


Os últimos R$ 508,3 milhões levantados em abril último mais a geração do fluxo de caixa e possíveis empréstimos com bancos privados darão suporte para a Anhanguera saltar dos atuais 47 campi para 120 nos próximos cinco anos, uma média de 18 novas unidades a cada ano, o que lhe permitirá iniciar operações no Chile. São duas vertentes de crescimento: tanto orgânica, inaugurando novas unidades, quanto por aquisição. Há potencial para ser o maior grupo educacional do mundo, e as oportunidades de negócios no Brasil e na América Latina são ótimas.

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam de que apenas 12% da população de 18 a 24 anos estão matriculados no ensino superior, o que significa que há um imenso potencial de crescimento para estas empresas. Para ele, poderão ser alvo dessa expansão o Paraguai, a Bolívia e a Argentina. "

A Kroton Educacional está estudando a legislação de todos os países sul-americanos, e, quando esse passo for dado, provavelmente o será em parceria com grupos locais que tenham o objetivo de se tornarem internacionais.


Formar uma joint venture também é uma das estratégias que a Kroton poderá adotar ao iniciar suas operações no exterior, o que também poderá acontecer daqui a cinco anos, segundo Walter Luiz Diniz Braga, presidente da empresa mineira que no ano passado registrou lucro líquido de R$ 149 milhões, valor que poderá dobrar este ano.


Quando o Apollo Group teve participação nas ações das Faculdades Pitágoras, a empresa teve oportunidade de estreitar o relacionamento com grupos internacionais. Será uma solução para ocupar novos mercados". A Kroton já possui, inclusive, operações no Japão. Das 608 escolas de ensino básico que a rede possui, seis estão localizadas em território japonês, atendendo a filhos de brasileiros.


Antes da oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês) do grupo, que completou um ano mês passado, o número de unidades cresceu de oito para 25, no final do primeiro semestre. Para 2009, a meta é chegar a 45 campi das Faculdades Pitágoras e das Faculdades de Tecnologia Ined, com o número de alunos saltando dos atuais 36 mil para 100 mil. Como a concorrente Anhanguera, a meta da Kroton é estar entre os maiores players do setor no mundo. Braga diz que o México é um mercado interessante, pois apresenta desafios similares aos encontrados por aqui, além de Colômbia, Uruguai, Chile e Índia. A Kroton tem como sócios majoritários o ex-ministro do Turismo Walfrido dos Mares Guia e os empresários Evando Neiva e Júlio Cabizuca.

Na opinião de Carlos Antonio Monteiro, presidente da CM Consultoria, especializada no setor, há possibilidades e projetos de expansão para o exterior das instituições brasileiras, que visam a atender mercados na América Latina, nos países africanos de língua portuguesa e até mesmo nos Estados Unidos. O consultor comenta que as empresas brasileiras podem chegar a estas regiões utilizando o modelo presencial ou o ensino a distância. A Universidade Norte do Paraná (Unopar), uma das três maiores universidades virtuais brasileiras, tem ambições quanto à África e à América Latina.

A confirmação de que os grandes grupos internacionais de ensino estão mirando nos mercados emergentes para alavancar seus negócios também é apontada por Ryon Braga, presidente da Hoper Consultoria. Ele diz que executivos da DeVry University, querem comprar escolas no País, a exemplo da Laureate International Universities, que comprou 51% do capital da Universidade Anhembi Morumbi em 2005, e da Whitney International, que desde 2006 possui 50% de participação nas Faculdades Jorge Amado, na Bahia, autorizada a operar como centro universitário.
O consultor Carlos Antonio Monteiro, no entanto, faz uma ressalva que neste processo muitas organizações estrangeiras querem iniciar seus negócios por aqui, mas não conseguem devido ao amadorismo em que se encontra boa parte do setor de educação. Só a Laureate levou cinco anos para iniciar sua primeira negociação.

A Família Uchôa, principal acionista da Estácio, também é responsável por unidades de ensino no Paraguai e no Uruguai que, por estarem em fase de organização pré-operacional e com os sistemas contábeis não plenamente estruturados, não foram incluídas no processo de reestruturação societária.
Seguindo o caminho trilhado pelas líderes que apostam em aquisições para crescer, o Grupo Iuni Educacional, considerado o oitavo maior do setor, anunciou ontem três novas aquisições: a Unir e a Uesp, ambas em Mato Grosso, e a Aesacre, no Acre, regiões em que a empresa já tem know-how de operação. O Iuni reúne agora 51 mil alunos, 46 mil deles na graduação presencial.

Fonte: DCI OnLine

Nenhum comentário:

Postar um comentário