sexta-feira, setembro 04, 2009

O naufrágio do ensino médio

O panorama geral da educação no Brasil é sombrio, e funciona como um verdadeiro freio ao desenvolvimento socioeconômico nacional, conforme análise publicada em edição recente da revista britânica The Economist, ancorada em números, comparações com os resultados de políticas educacionais adotadas em outros países emergentes, e considerações de especialistas. Esta matéria foi tema de editorial publicado nesta mesma página há algumas semanas.

Volta-se ao assunto diante da constatação de que a taxa de abandono do ensino médio (evasão escolar) é quase três vezes maior (13,2%) do que a verificada no ensino fundamental. Atualmente, 98% das crianças brasileiras de sete a 14 anos estão matriculadas no ensino fundamental; mas só 82% dos jovens de 15 a 17 anos, a idade correta para frequentar o ensino médio, estão em sala de aula.

Neste nível, também é inaceitável a taxa de reprovação, que chega a 12,7%. Os dados são da Organização das Nações Unidas para a Infância (Unicef), e se referem ao ano de 2007, o que significa que a taxa de reprovação no ensino médio brasileiro dobrou em relação aos 6,3% verificados em 1998. A tragédia em vários atos da educação pública no Brasil pode ser resumida em breves palavras: poucos jovens conseguem ter acesso ao ensino médio, a maioria deles não consegue passar de ano e muitos mais abandonam a escola ou porque precisam trabalhar, ou por puro desalento e desinteresse. Seja aqui em Santa Catarina, seja no saqueado Maranhão, as situações não diferem muito.

Não há necessidade de ser especialista na matéria para identificar os fatores que concorrem para formar este quadro desalentador: falta de qualificação e absenteísmo dos professores, eles também, em maioria, egressos do falido sistema de ensino público nacional; escolas carentes de equipamentos adequados em quantidade e qualidade; currículos fora de foco, que não preparam os jovens para a cidadania e muito menos para a vida do trabalho, escassa participação comunitária e familiar no processo de educação e na vida das escolas.

Falta dinheiro para a educação? Não. Falta competência, inteligência e visão para aplicá-lo. De nada adianta o governo federal sair por aí espalhando universidades a torto e a direito, em uma empreitada que sequer disfarça o cheiro da demagogia populista e eleitoreira, e gastando “uma babilônia” no ensino superior público – onde também começaram a pipocar escândalos e casos de aparelhamento e corrupção – se o nível fundamental vai mal, e o nível médio está naufragando de vez. Ou começa a mudar já, ou o país vai puxar também o freio de mão do desenvolvimento, e condenar a nova geração ao não-saber.

Fonte: Folha OnLine

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