sexta-feira, janeiro 30, 2009

O gênio da lâmpada e a comunicação dirigida


A marca que não fizer comunicações dirigidas para cada um de seus públicos estará condenada à pior das maldições: ficar esquecida para sempre. Se o gênio da lâmpada aparecesse hoje, teria que mudar o discurso padrão. A era da comunicação de massa já era.

Basta ver que termos como “horário nobre” perderam toda a sua nobreza com a evolução das mídias fragmentadas - como internet e celular - em que as pessoas são impactadas a qualquer hora, de qualquer lugar. Assim, o “um por todos” cada vez mais dará lugar ao “todos por um”, fazendo com que ações “focais” se tornem – em tempos de crise – tão importantes quanto as virais. E muito mais rentáveis.

Afinal, o poder passou de uma vez por todas para as mãos do consumidor, cada vez menos receptivo às publicidades “tradicionais”. Ele agora quer interagir com a mensagem, alterar o conteúdo, fazer sua própria versão e convidar os amigos para ver o resultado. Deixou de ser apenas um número nos relatórios de audiência para ter nome e endereço completos. E sentindo sua importância crescer, muitas vezes ousa até desafiar as próprias marcas.

Fico imaginando, por exemplo, como seria a receptividade ao gênio da lâmpada nos dias de hoje. O “consumidor moderno” provavelmente duvidaria bastante da tal mega oferta dos três pedidos. E, principalmente, teria uma imensa dificuldade para engolir aquele discurso genérico padrão – já que, hoje em dia, cada consumidor pode responder aos estímulos de uma forma diferente. Acho que seria mais ou menos assim:

1. O desafiador

- Nossa, é o que eu estou pensando? Deixa eu esfregar esse troço pra ver se…
- Ó meu amo! Obrigado por me libertar!
- Não acredito! É o gênio da lâmpada!!!
- Eu mesmo, ó meu novo senhor! E em retribuição por ter me libertado de séculos de sofrimento, concedo-lhe o direito de fazer três pedidos, ó meu amo.
- Jura? De verdade???
- Sim, ó meu novo amo e senhor.
- Então, antes de mais nada, me esclarece uma dúvida: por que te chamam de “gênio da lâmpada” se esse troço de onde você sai não tem nada a ver com uma lâmpada?
- Bom, ó meu amo e senhor… na época em que fui aprisionado, ainda iluminavam os cômodos dos palácios com recipientes assim cheios de óleo incandescente…
- Sorte sua: com essa barriguinha aí, você ia sofrer muito mais pra entrar em uma lâmpada incandescente dos dias de hoje… Isso se não te obrigassem a entrar em uma fluorescente…
- Mas, graças ao meu novo amo e senhor, eu…
- Primeiro pedido: para de me chamar assim. Pode ser?
- Pedido concedido, ó meu… brou.
- Isso, bem melhor assim. Agora me esclarece uma outra dúvida: e se eu pedir algo impossível de ser realizado?
- Eu farei o possível e o impossível para poder lhe retribuir o favor, ó meu nego.
- E se for um pedido que você não pode realizar de jeito nenhum?
- Eu posso realizar qualquer pedido, ó meu chapa.
- Ah é?
- Hum-hum.
- Então agora eu quero ver: desejo saber quantos anos tem a Glória Maria.

2. O capitalista

- Três desejos? Posso pedir qualquer coisa, né?
- Sim, ó meu novo amo e senhor.
- Então vamos lá, sem perder tempo. Pedido nº 1: quero que o meu número de pedidos seja multiplicado por 1 milhão.
- Mas, meu amo… Apesar de ser eternamente grato ao senhor, poderei realizar somente três deles…
- Tudo bem, sem problemas. Realiza esse meu desejo então?
- Desejo realizado, ó meu novo amo e senhor.
- Perfeito. Pedido nº 2: quero que todos os meus pedidos sejam realizados em dobro.
- Mas, meu amo… não sei se…
- Não pode qualquer coisa? Não é isso que tá no contrato?
- Sim meu amo, mas…
- Então, não tem o que discutir. Pode realizar, senão te processo.
- Está certo. Desejo realizado, ó meu novo amo e senhor.
- Falta mais um, né? Vamos lá: desejo que, a partir de hoje, eu passe a ocupar o seu lugar.
- Mas, meu amo… aí o que seria de mim?
- Não se preocupe. Você passa a trabalhar como meu assistente e, em troca, te dou 10% dos pedidos realizados. Fechado?

3. O economista

- Só três pedidos?
- Sim, ó meu novo amo e senhor.
- Eu não posso parcelar em mais vezes?
- Creio que não, ó meu novo amo e senhor.
- Mas quando esse valor vai ser reajustado?
- Temo que não haverá reajustes, ó meu novo amo e senhor.
- Hmmm, entendi… Política de contenção de gastos, né?
- Mas o senhor pode pedir o que quiser, e farei de tudo para realizar qualquer um de seus desejos, ó meu novo amo e senhor.
- Então posso gastar só um pedido agora e guardar os outros dois?
- Bom, geralmente eu costumo realizar todos os pedidos de uma vez só, ó meu novo amo e senhor…
- Mas eu preferia estudar melhor o mercado de desejos antes… Analisar todos os riscos com calma, e fazer um estudo mais apurado, sabe? É que você me pegou meio desprevenido…
- Tudo bem, ó meu novo amo e senhor. Se esse é o seu desejo, assim será: faça um pedido agora e realizarei os outros dois quando o senhor assim desejar.
- Legal! Posso pedir?
- Sim, ó meu novo amo e senhor.
- Desejo passar um dia dentro da cabeça do Barack Obama.

4. O desconfiado

- Por que três pedidos? O que eu fiz pra merecer isso?
- Me libertou de uma maldição que me obrigou a passar séculos preso dentro dessa lâmpada, ó meu novo amo e senhor.
- Lâmpada? Que lâmpada? Eu só dei uma chacoalhadinha nesse suporte de molho de salada para ver se ele ainda tava cheio…
- Mas esse seu gesto acabou com minha interminável agonia, e agora me sinto obrigado a retribuí-lo, ó meu novo amo e senhor.
- Que papinho mais estranho esse, hein? Me chamando de “amo”, querendo me agradar…O que você tá querendo em troca, hein?
- Não quero nada. Quero apenas realizar três dos seus desejos como forma de gratidão por ter me livrado dessa maldição, ó meu novo amo e senhor.
- Isso tá me cheirando a golpe… Quando a esmola é muita…
- O que eu posso fazer para provar que desejo apenas gratificá-lo, ó meu novo amo e senhor?
- Você jura POR DEUS que não vai pedir nada em troca? Jura?
- Posso jurar por Alá, ó meu novo amo e senhor.
- Então ajoelha aqui na minha frente e jura.
- Mas, meu amo… eu não tenho pernas…
- Sabia! Impostor sempre tem umas desculpinhas esfarrapadas.


5. O sádico

- Ó meu novo amo e senhor! Em retribuição por ter me libertado de uma maldição que me condenara a séculos de sofrimento, concedo-lhe o direito de realizar três desejos.
- Três? Precisa não. Um só já é suficiente.
- Como quiser, meu novo amo e senhor. E qual seria esse desejo?
- Quero que você volte lá pra dentro.

6. A masoquista

- Ó minha nova ama e senhora! Em retribuição por ter me libertado de séculos de aprisionamento, concedo-lhe o direito de realizar três desejos.
- Muito obrigada querido, mas só quero uma coisinha simples…
- Assim como desejar, ó minha nova ama e senhora. E qual seria esse único pedido?
- Me bate!

Ou seja, brincadeiras à parte, a marca que não fizer comunicações dirigidas para cada um de seus públicos estará condenada à pior das maldições: ficar esquecida para sempre.

E não precisa ser nenhum gênio para chegar a essa conclusão.

fonte: Eco Moliterno, Wunderman

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