quarta-feira, janeiro 14, 2009

Adversidade e diversidade desenvolvem profissionais


Vivência no exterior é um item valorizado nos currículos, especialmente se for motivada por cursos de idioma e especializações como pós-graduação ou MBA. No entanto, mesmo quem já está empregado pode incrementar a carreira e se beneficiar de uma experiência fora do país. Esqueça, contudo, os destinos mais óbvios como Estados Unidos, Inglaterra ou Canadá. A IBM, por exemplo, desenvolveu o Corporate Service Corps, que tem como objetivo tirar os voluntários da zona de conforto, mandando-os para realizar trabalhos estratégicos e práticos com pequenos empresários e ONGs de países como Gana, Tanzânia, Filipinas e Vietnã.

Estrategista de web, Rafael Cunha atuou em projetos com a universidade e a prefeitura de Davao, nas Filipinas, e fez workshop de TI para 400 estudantes

Dos 5 mil inscritos para a primeira turma, foram selecionados 110 de 33 países. Destes, três são brasileiros. A diretora de cidadania corporativa da IBM Brasil, Ruth Harada, explica que os selecionados moraram durante um mês no país escolhido pela empresa, mas somente após três meses de treinamento sobre a cultura e a realidade politica e socioeconômica do seu destino. "Embora os trabalhos aconteçam em regiões consideradas menos favorecidas, não se trata de assistencialismo. É preciso conduzir projetos, integrar capacitação, desenvolvimento e tecnologia da informação", afirma.

Formado em publicidade e há quatro anos na empresa, o estrategista de web Rafael Cunha resume bem o tamanho do "problema": "Imagine uma equipe de oito pessoas de nacionalidades e especializações diferentes, que se encontra pela primeira vez em um país que é estranho a todos . Cada pessoa dessa equipe lidera um projeto e precisa interagir com os outros para entender as necessidades de cada "caso", desenvolver soluções viáveis e implementá-las", explica. "Tudo isso em um mês e com recursos muito limitados", completa Cunha, que atuou em parceria com a universidade e com a prefeitura da cidade de Davao, nas Filipinas.

Já Katia Lopes, assistente de marketing, esteve em Kumasi, em Gana, durante todo o mês de outubro de 2008. Acabou desenvolvendo, entre outras coisas, um plano de negócios de três anos para uma ONG local focada em artesanato. "Precisei entender como o negócio todo funcionava e como poderia agregar mais valor a ele. Trabalhamos com material de comunicação e marketing, inclusive dando treinamento ao pessoal, além de prestar consultoria com a parte de finanças e crédito", afirma. Ela lembra que as condições adversas eram muitas e isso exigia flexibilidade de toda a equipe. "Conexão de internet, transporte, material de trabalho, tudo é mais difícil, pois não há muita infra-estrutura. Aprende-se rápido que nem tudo gira da forma como imaginamos."

Em Danag, no Vietnã, Patricia Seabra encontrou uma empresa de TI com cerca de cem funcionários que estava passando por profundas transformações: era uma estatal que acabara de ser privatizada e os principais diretores também haviam sido substituídos. Especializada em vendas, ela logo percebeu a necessidade de reestruturar a área, imprimindo maior controle e acompanhamento de todas as operações. A equipe que liderava também desenvolveu programas em parceria com outras empresas de tecnologia, além de ensinar como fazer análise de mercado e reuniões mais estruturadas com clientes. "O fundamental foi ter apoio daquelas pessoas. As sugestões foram bem aceitas e incorporadas no dia-a-dia da empresa", diz. A maior dificuldade foi a comunicação, uma vez que quase nenhum dos vietnamitas sabia inglês. "Falava em inglês com uma intérprete e ela repassava as mensagens. Era uma loucura", diverte-se.

Na volta para casa, os voluntários compartilharam suas impressões, experiências e aprendizado com outros colaboradores da IBM. Falar em público, aliás, não é problema para eles. No final de seu programa, Kátia até deu uma aula de inglês para cerca de 40 funcionários e contou um pouco da cultura brasileira para os vietnamitas, enquanto Rafael fez um workshop sobre TI para mais de 400 estudantes filipinos. "É incrível o quanto e o quão rápido se amadurece profissionalmente trabalhando com tanta diversidade e adversidade", ressalta. Programas desse tipo devem agregar o máximo de valor tanto para o funcionário quanto para a companhia. "Na economia global de hoje, os líderes precisam ser capazes de compreender e colaborar de forma efetiva com pessoas de origens e perspectivas muito diversas", afirma Ruth Harada.

fonte: Valor Economico

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