terça-feira, dezembro 09, 2008

Mobilidade e Interatividade: O novo social

09/12/08

Não há como negar que existe relação entre o comportamento do indivíduo e a tecnologia. Até que ponto um influencia o outro é um território cheio de opiniões. Uns dizem que quem dita o comportamento é a tecnologia criada; outros afirmam que é o homem quem define as características da tecnologia em função de sua necessidade. Entretanto, saber quem mexe com quem não é a questão, admitir a quebra de paradigmas é o mais importante.

No atual paradigma social, da Sociedade da Informação, a tecnologia atinge todos os segmentos na vida de um homem: profissional, afetivo, familiar e particular. A conjuntura é de pessoas interligadas em rede, colaborando na troca de informação.

Na medida em que os aparelhos ficam mais baratos e fáceis de usar, a necessidade se confunde com o modismo. Com isso, o número de usuários destas tecnologias cresce rapidamente.

Duas tendências na produção de equipamentos e comportamento estão em evidência: a mobilidade e a interatividade. Resumidamente (e comercialmente), a mobilidade é a possibilidade de carregar consigo a sua central de comunicação (para efeitos estruturais do texto, englobei em apenas um conceito a definição de mobilidade e portabilidade). Interatividade é a possibilidade de o usuário participar, agir sobre o conteúdo (o conceito é muito mais denso que isso; a palavra interatividade é usada como jogada de marketing – na realidade, o que as empresas vendem é participação).

A convergência de mídias, possibilitada pela adoção da linguagem digital, se encarregou de juntar os diferentes usos em poucos equipamentos. A mobilidade e a interatividade caminham unidas na Sociedade da Informação.

O computador em si é interativo, a mobilidade veio através do laptop. O celular é o símbolo da mobilidade. GPS, TVs portáteis, MP3 players, videogames... Diversos equipamentos surgem priorizando a mobilidade e a interatividade.

O comportamento social do indivíduo é alterado. Pensando de forma maniqueísta, este paradigma possui dois lados: o Bem (espiritual) e o Mal (material).

O contato com pessoas diminui. Antes, você precisava se dedicar para encontrar alguém, realizar uma ação (sair de casa, por exemplo). Hoje, esta dificuldade se foi – na sociedade digital, o conceito de espaço e tempo é alterado. Ao viajar, não é mais necessário parar para pedir ajuda, usa-se o GPS. O contato 24 horas do dia através de redes sociais e do próprio celular tira a urgência da conversa, pode-se transmitir o conteúdo na hora que quiser. É só passar um e-mail ou mandar um scrap. O computador é pessoal. Usá-lo pressupõe isolamento: é um mouse, com um teclado e uma tela. Possibilitar o deslocamento do computador para qualquer lugar é garantia de menos uma pessoa participando da atividade; ela pode até continuar inserida, mas no mínimo sua atenção ficará comprometida.

São pequenas atitudes que somadas atrapalham o convívio social. No trabalho, é mais fácil mandar um e-mail, onde você consegue elaborar melhor o que dizer, que falar pessoalmente. Na vida amorosa, um rapaz conhece uma garota, acha-a no Orkut, pega seu MSN e começa a conquista através de frases esporádicas pelo mensageiro instantâneo (tudo on line). Com os amigos e familiares, não é mais necessário encontrá-los com o objetivo de evitar perder o contato – eles já estão registrados na rede social, na agenda do celular e no catálogo de endereços.

A urgência pelo encontro desapareceu devido à disponibilidade o tempo todo. Eu não preciso marcar de sair com meu primo, pois o encontro sempre no MSN e conversamos lá mesmo!

Por outro lado, as novas tecnologias possibilitam um maior acesso a informação, a cultura é mais facilmente disseminada. Maior informação gera a necessidade de filtragem, de escolha, e, portanto, um conhecimento especializado e personalizado. As redes são formadas baseando-se nas características de cada usuário; comunidades de pessoas parecidas são formadas priorizando a colaboração.

Com a formação de grupos, o conceito de amizade se expandiu. Não se faz amigos só na escola – as crianças de hoje conversam com o mundo todo, seja na comunidade sobre um jogo de videogame ou no fórum sobre futebol.

A interação pode ter ficado virtual, mas ficou facilitada. Mais e mais pessoas se juntam com o objetivo de trocar informação e experiências específicas – há a formação de uma cultura global, um espaço comum a todos os povos. A internet é a praça do mundo, as redes sociais são os bancos onde as pessoas sentam para conversar.
A facilidade em encontrar uma pessoa (seja pelo celular, rede social, MSN...) ao mesmo tempo em que tira um pouco a sua privacidade (e individualidade – o direito de ter um tempo solitário, individual, perdeu-se), também facilita a resolução de problemas e a troca de informação.

O maniqueísmo é necessário para listar os prós e contras. Não pode ser usado como inibidor ou estimulador, mas sim como guia para o comportamento. O ideal, como tudo na vida, é o equilíbrio. Uma atitude não deve valer mais que outra, não deve ser substituta. Deixar de interagir pessoalmente para interagir virtualmente não pode ser uma regra. O contato é fundamental para o crescimento intelectual e afetivo do indivíduo.

Vivemos um período de transição, de descobertas. A visão popular do termo social, do convívio em comunidade, está ultrapassada; ela não implica mais necessariamente o convívio, a intimidade, o conhecimento mútuo. Desconhecidos conseguem se relacionar com base em peculiaridades, como o gosto por determinado hobby. Os laços de amizade ficaram diluídos em campos gigantescos de afinidade – hoje, saber quem uma pessoa é, seja presencial ou virtualmente, já a intitula como amiga (vide o número de “amigos” em redes sociais). O mais incrível é que mesmo o laço sendo estruturalmente fraco, o contato existe e a probabilidade de crescimento é exponencialmente maior do que se nenhum registro digital fosse feito. O que quero dizer é que existe um laço, apesar de não haver história compartilhada para aquela formação.

O novo social mescla o presencial e o virtual (no sentido de on line ou mediado por tecnologia). O preconceito no uso destas tecnologias para interagir é um discurso ultrapassado. Usar o computador, jogar videogame, navegar na internet, conversar pelo Orkut não são coisas de “nerds” ou “geeks”, são comportamentos apropriados à realidade que vivemos.

O desafio é não ficarmos deslumbrados com o potencial da tecnologia e desaparecer em avatares, em personagens intangíveis nas diversas redes formadas. Afinal, sentir o calor de um processador com o cooler quebrado não substitui o calor humano.

* Por Gustavo Audi - formado em Comunicação Social pela UFRJ, trabalha com produção de video para a Fiocruz e é especialista em Mídias Digitais pela UNESA.


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