terça-feira, setembro 16, 2008

A sala de aula do futuro

15/09/2008 - Ela é, ao mesmo tempo, sala de aula, biblioteca, laboratório de ciências, sala de artes e laboratório de informática
Laura Lopes

Lá tem internet wi-fi e computadores. Iluminação controlada, uma cópia de um esqueleto e de um torso humano, uma placa solar, uma pilha caseira, armários e um microscópio. Também tem um quadro digital touch screen e várias mesas que acomodam três pessoas (além do computador). Todas essas características formam a sala de aula inteligente, projetada para um modelo de educação do futuro (entenda como ela funciona no infográfico abaixo). E o professor? Também está lá e tem a função de relacionar todas essas mídias através de um ensino multidisciplinar. Na sala inteligente, os alunos não usam carteiras, mas sentam-se em grupos de três em estações de trabalho e tornam-se os autores de seu próprio aprendizado.

Essa idéia já é usada em algumas instituições de ensino do país – como nos laboratórios do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), em um campus da Universidade Santo Amaro, de São Paulo, e no Projeto Jovem Cientista do Instituto Unibanco. Seu mentor, o especialista em novas mídias e tecnologia para a educação Cassiano Zeferino de Carvalho Neto, trabalha no projeto há 15 anos e conseguiu colocá-lo em prática só no ano passado, em uma escola de educação infantil bilíngüe, de Florianópolis. “Alguns autores dizem que o conhecimento mundial dobra a cada dois ou três anos enquanto a tecnologia de ensino está estagnada”, afirma o especialista, presidente do Instituto Galileo Galilei para a Educação (clique aqui para ver diferença entre a escola tradicional e a inteligente).

Segundo Carvalho Neto, o aprendizado que a escola de hoje permite é centrado na comunicação verbal e visual, que seriam o topo de uma pirâmide muito mais ampla. Esses saberes, no entanto, não são suficientes para educar o aluno contemporâneo. Para um ensino completo, que transcende decorar fórmulas e teoremas, seria necessário, além desses processos, o uso de mídias (áudio, TV e vídeo), vivências (em excursões e exposições), demonstrações ao vivo, dramatizações e experimentações dos mais variados tipos (diretas ou simuladas). Para o aluno aprender, segundo essa concepção, é preciso que ele experimente.
Ciberarquitetura
O professor defende uma “ciberarquitetura da sala de aula”, em que o espaço físico tradicional se aprofunda no espaço digital, experimentado pelos alunos tanto em classe como em casa, lan houses e outros lugares. A sala de aula também é biblioteca, laboratório de ciências, sala de artes e laboratório de informática. O conteúdo das aulas segue a recomendação do Ministério da Educação, mas a forma como são ministradas é totalmente inovadora.
O professor Cassiano mostra os equipamentos de pequeno porte usados na sala inteligente
Elas são agrupadas por projetos, as chamadas grandes áreas. Cada fenômeno a ser estudado é contextualizado, problematizado, investigado e modelado, de maneira que seja apreendido em seu sentido mais amplo. Os alunos são ativos, participam das aulas com pesquisas e precisam filtrar as informações que encontram na internet. Isso, defende Carvalho Neto, os torna mais capazes de gerir suas vidas. Em um projeto sobre energia, por exemplo, o professor inicia a aula mostrando, no quadro digital, um vídeo do YouTube de jogadas do Pelé. Em seguida, diz que os músculos do jogador são movidos por energia e pergunta de onde ela vem. Provocativo, responde que ele ingeriu energia nuclear, para aguçar a curiosidade dos alunos.

Ao longo desse processo, o aluno descobre que, para ter energia muscular, Pelé teve que se alimentar. Estuda, então, a transformação de energia no corpo humano e a pirâmide alimentar. O professor explica a fotossíntese das plantas e fala que o Sol (energia nuclear pura) é o grande responsável pela transformação de oxigênio em alimento para a planta. “Existe um processo de pesquisa, descoberta e investigação. Para explicar os passes de Pelé, o professor aborda temas da biologia, química e física, usando equipamentos digitais e não-digitais”, afirma o especialista. As aulas não são expositivas, mas interativas e com intensa pesquisa online. Os materiais usados ficam guardados dentro de armários – cada projeto tem o seu conjunto de equipamentos.

No Instituto Unibanco, Carvalho Neto capacita um grupo de jovens professores que se mostra feliz com o novo método. Depois das aulas, muitos permanecem em sala, discutindo, questionando e aprimorando sua própria didática. Um deles pede licença para se despedir do mestre: “Obrigado, professor. Estamos aprendendo muito”. Um pouco orgulhoso, um pouco tímido, o especialista dá um sorriso de realização.


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Fonte: Revista Época n. 539

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