segunda-feira, agosto 04, 2008

Os profissionais da educação e as ideologias político-partidárias

02/08/2008 - A história da educação no Brasil tem nos mostrado o quanto as ideologias, principalmente as político-partidárias, lhes são prejudiciais. Senão vejamos: no período colonial, os jesuítas monopolizaram o ensino escolar em torno de duzentos anos, cujo objetivo era a “formação integral do homem cristão” sob a perspectiva da fé e da cultura da época; e no tempo do império, desde a vinda da Corte Portuguesa para o Brasil, em 1808, até a proclamação da República, o ensino público, além de ser “carente de vínculos mais efetivos com o mundo prático”, tornou-se um sistema de exames, cujos vestígios ainda hoje imperam em função do fatídico vestibular.

No período da “República Velha”, houve uma intensa influência da pedagogia norte-americana, descontextualizada, com experiências pedagógicas nos Estados; nos anos 30, por sua vez, as propostas pedagógicas passaram a refletir o ideário liberal, pois “nossas elites, divididas em grupos ideológicos de um modo bem mais acirrado que em qualquer período da história do Brasil, produziram reflexões pedagógicas marcadas pelas disputas políticas” de forma bastante intensa – nessa época surgiu a expectativa popular de ascensão social por meio da educação; ainda nessa época, o catolicismo voltou a incentivar o seu ideário sócio-político-pedagógico; e durante o “Estado Novo” – uma ditadura populista –, oficializou-se um dualismo educacional, ou seja, um ensino secundário público para as “elites condutoras” e um ensino profissionalizante para o restante da população.

Do governo de JK até a revolução de 31 de março de 1964, a escola foi colocada “sob os desígnios diretos do mercado de trabalho”, criando um sistema elitista em que pouquíssimos estudantes chegavam ao último ano do curso médio; nos 21 anos da ditadura militar, “pautado em termos educacionais pela repressão, privatização do ensino, exclusão de boa parcela dos setores mais pobres do ensino elementar de boa qualidade, institucionalização do ensino profissionalizante na rede pública regular sem qualquer arranjo prévio para tal”, além de um vestibular mais rigoroso para que o ensino universitário continuasse reservado às elites, houve um fracasso educacional em todos os sentidos; o período de 1970 a 1980 foi atabalhoado por uma enxurrada de ideologias pedagógicas importadas e vitimado por teorias psicológicas, que mais atrapalharam os professores do que os ajudaram.

Já o período democrático, de 1985 a 2002, em que “surgiram e desapareceram várias agremiações políticas”, iniciou com “uma política corriqueira e pouco criativa”, passou por uma política educacional conturbada e improdutiva e desembocou na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – que fomentou a criação de faculdades particulares (Ghiraldelli Jr, 2006) – e no Plano Nacional de Educação – que estabeleceu apenas metas quantitativas, “mas nada foi feito para que elas fossem alcançadas”; o período de 2003 a 2006, por sua vez, foi insípido em termos de políticas públicas para a educação, mas que também não deixou de fomentar as faculdades particulares, desta vez com o Prouni; em 2007, entretanto, foi lançado o Compromisso Todos pela Educação e o Plano de Desenvolvimento da Educação, com metas quantitativas e qualitativas, mas, segundo Ghiraldeli, com ações pulverizadas, carente de uma amarração teórica e no qual “não há nada decisivo que fale de carreira, fixação do profess or na escola e tempo integral” (Ghiraldelli, 2008).

O Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), que segundo declarações do presidente Lula “trata-se do plano mais abrangente já concebido no Brasil para melhorar a qualidade do sistema público de ensino” (Avancini, 2008), é um marco na história da educação no Brasil, haja vista envolver as três esferas administrativas: federal, estadual e municipal; entretanto, se não houver realmente um comprometimento com a educação em si, mais cedo ou mais tarde, infelizmente, esbarrará na descontinuidade administrativa dos municípios, dos estados e do próprio governo federal. Ou seja, esbarrará nas ideologias político-partidárias. Que assim não seja.

Por esse breve histórico da educação brasileira, podemos perceber que, acima da própria educação, encontram-se os “interesses transitórios dos partidos políticos” e que, em todos os governos, perpassa o seu principal fio filosófico, que é manter uma minoria escolarizada no poder (ainda que tenhamos analfabetos funcionais ocupando cargos do alto escalão) e uma maioria menos escolarizada, com uma educação bem básica ou quase nenhuma, no papel de eleitores de políticos oportunistas e demagogos.

As pessoas ligadas a tais ideologias, fanatizadas e imbecilizadas por elas (com raríssimas exceções), estarão de mãos, pés e mentes amarrados no exercício de sua função na área da educação. Sua visão, como a dos cavalos de carroças, que têm um tapa de cada lado da cabeçada, é focada em um único sentido, impedindo-as de observarem o que ocorre em sua volta. Professores desse tipo, por exemplo, estragam seus alunos, pois, ao invés de os politizarem, impedem-nos de se tornarem politicamente conscientes (Ferreira, 1988).

A que conclusão chegamos, então, depois de tudo o que descrevemos? Uma pessoa imbecilizada por ideologia político-partidária não devia nem deve se envolver com a educação, e isso desde o exercício do magistério nas escolas (principalmente públicas) até as diretorias e secretarias no Ministério da Educação. Por qual motivo? Para não “contaminar” e não viciar a educação. Radicalismo da minha parte? Acredito que não, haja vista que a história tem provado que partido político nada entende de educação, que cada ideologia político-partidária cria sua pedagogia ou copia algum modismo visando seus próprios interesses e não os da sociedade.

Maurício Apolinário
é professor e autor do livro A arte da guerra para professores

Fonte: Diário da Manhã - GO

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